A capivara, maior roedor do mundo e nativa da América do Sul, conquistou espaço para além de seu habitat natural. No Brasil, tornou-se símbolo de afeto e tranquilidade, enquanto no exterior, como no Japão, virou atração de cafés temáticos. Em Tóquio, por exemplo, o Cafe Capyba permite que os clientes acariciem capivaras enquanto tomam café. A figura simpática e serena do animal é o principal atrativo.
Nas redes sociais, a capivara é estrela de vídeos virais que reforçam sua fama de pacífica e amigável. É comum vê-la interagindo de forma harmoniosa com diferentes espécies, como cães e jacarés. O sucesso também alcançou o universo musical com a canção “Capybara”, do desenvolvedor russo Alexy Pluzhnikov, que se transformou em trilha sonora de memes no TikTok.
A popularidade cresceu tanto que o animal se tornou estampa de camisetas, canecas, chaveiros e até alimentos no Brasil. Sua imagem relaxada parece refletir um desejo coletivo por tranquilidade em tempos de alta ansiedade social.
A arte do bom humor brasileiro
O ilustrador Rodrigo Vaz, criador da página Capyverso no Instagram, transformou a capivara em personagem fixo de suas tirinhas, atraindo mais de 500 mil seguidores. “Capivara é unanimidade nacional”, comenta ele. Rodrigo, que antes desenhava gatos, encontrou na capivara uma figura que representava melhor o humor e a identidade brasileira. Seu trabalho rendeu uma loja online de sucesso com diversos produtos estampados com o animal.
Segundo Rodrigo, o carisma da capivara vem de seu comportamento dócil e sua aparência simpática: “É como se fosse uma mistura de rato com cachorro gigante. Passa uma tranquilidade que todo mundo quer”. Para ele, o animal virou fonte de renda e conexão emocional com o público.
O fascínio por esse comportamento sereno não é apenas sensorial: tem base científica. A bióloga Cinthia Martins Corbetta explica que as capivaras convivem bem com outras espécies por serem naturalmente pacíficas e pouco territoriais. “Elas não competem por alimento ou espaço, o que facilita interações amigáveis com outros animais”, detalha.
Reflexo do espírito nacional
A figura da capivara também carrega uma forte simbologia. Para o sociólogo Deividi Lira, sua popularidade é um reflexo da busca por valores como calma, afeto e resistência em tempos de estresse social. “Ela representa a coletividade e a leveza com que o brasileiro lida com as adversidades”, afirma. O animal aparece nas redes como um ser sábio, gentil e calmo — uma espécie de guia espiritual da internet.
Além disso, sua presença em espaços urbanos como parques e lagos – caso notável em cidades como Brasília – contribui para sua popularização como mascote não oficial do país. Nas mídias digitais, a capivara virou um símbolo contra o ritmo frenético das redes, sempre com um ar tranquilo e expressão serena.
A psicóloga Loren Oliveira completa: “A capivara virou um símbolo do que o brasileiro gostaria de ser: tranquilo, de bem com a vida. Em um país que é o segundo mais ansioso do mundo, ela representa um ideal coletivo”.
Ícone global de afeto e serenidade
O sucesso da capivara não se restringe ao Brasil. Em países como Japão, Estados Unidos e Reino Unido, ela se tornou um símbolo de fofura e calmaria. No Tennessee, há cafés com temática capivara e pelúcias por todos os lados. Em Londres, no famoso mercado de Camden, uma instalação artística presta homenagem ao animal.
No Cafe Capyba, em Tóquio, o proprietário Yusuke Yoshida cuida de duas capivaras chamadas Kohaku e Pisuke. “Elas gostam de ser acariciadas. Têm uma natureza gentil que encanta as pessoas”, contou ele à BBC News Brasil. Seu objetivo é simples: espalhar a doçura das capivaras para o mundo.
Assim, o que começou com uma roedora pacata à beira de rios brasileiros, se transformou em um ícone global de afeto e tranquilidade. A capivara não é apenas um animal silvestre – é um símbolo cultural poderoso, que une leveza, resistência e brasilidade num mundo em busca de paz.
