Líder de desmatamento no último ano, a Terra Indígena (TI) Sararé, em Mato Grosso, lida com a volta de garimpeiros mesmo após ter sido alvo de uma operação no segundo semestre para combater a prática ilegal na região, mostram ofícios da Funai enviados ao governo federal nos meses de outubro e dezembro.
A presença de facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV), e o risco de acirramento de disputas territoriais, bem como a formação de milícias, também são mencionados. O ofício mais recente foi enviado no início de dezembro pelo secretário nacional de Direitos Territoriais Indígenas, Marcos Kaingang.
No documento, ele relata que a Operação Xapiri, ocorrida entre agosto e outubro, não foi capaz de impedir o retorno “massivo” de garimpeiros ao território. Na avaliação da Funai, a alta no preço do ouro impulsiona a volta dos extrativistas ilegais.
ALICIAMENTO DE INDÍGENAS PARA ESCONDER ARMAS
“Os grupos permanecem ativos e se reorganizam rapidamente, mantendo intensa movimentação logística, incluindo transporte de combustível, mantimentos e materiais para construção de estruturas precárias, bares e prostíbulos no interior da Terra Indígena. Há registros de atividades inclusive no período noturno”, escreveu Kaingang, que enumera a ocorrência de homicídios e chacinas, confrontos entre garimpeiros e servidores públicos e tentativas de aliciamento de indígenas para esconder armas em aldeias, além da circulação de armamento pesado, como fuzis e explosivos.
“As agências de inteligência têm registrado o avanço da facção criminosa Comando Vermelho, além de disputas entre facções para dominar pontos de extração ilegal de minério no interior e entorno da TI”, diz o ofício.
ESFORÇOS INSUFICIENTES
Um ofício anterior já alertava para a provável volta de garimpeiros e criminosos após o fim da Operação Xapiri. Datado do dia 28 de outubro, o documento, assinado pela presidente da Funai, Joenia Wapichana, e dirigido à Casa Civil, afirma que “os esforços não foram suficientes para conter a atividade ilícita no local”. Segundo Wapichana, observou-se, inclusive, o agravamento da situação em algumas aldeias. Além das tentativas de aliciamento, os criminosos passaram a usar as vias de acesso às habitações dos indígenas, além de ameaçarem lideranças.
O Comando Vermelho também é mencionado neste documento. De acordo com a presidente da Funai, a presença dessa e de outras facções “tem provocado reações de resistência entre os garimpeiros, levando-os a contratar seguranças armados, em estrutura análogas às milícias”.
Citada no ofício, a Abin estima que existam cerca de dez fuzis em apenas um dos garimpos sob controle do CV.
DOMÍNIO CARTÉIS DE DROGAS EM TERRAS INDÍGENAS
A presença do crime organizado na região teria levado a um processo de “mexicanização” da terra indígena, segundo um delegado da Polícia Federal não identificado citado no ofício. A expressão é uma referência aos problemas experimentados por regiões que vivem sob domínio dos cartéis de droga no país latino- americano.
Procurado, o Ministério da Justiça informou que, atendendo à solicitação do Ministério dos Povos Indígenas, autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública em apoio à Funai na Terra Indígena Sararé “para a realização de atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.
Segundo a pasta, a Força Nacional mantém efetivo permanente na região.
A Funai e a Casa Civil não retornaram ao contato da reportagem.


