O juiz Ivam Lúcio Amarante, de Mato Grosso, alvo da Operação Sisamnes por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro na Comarca de Vila Rica, recebeu R$ 750 mil de sua própria mulher, Mara Patrícia Nunes Amarante. Os repasses foram realizados de forma fracionada, 43 depósitos ao todo, entre 8 de setembro de 2023 e 30 de julho de 2024, indica a quebra do sigilo do magistrado.
A Policia Federal suspeita que o dinheiro teve origem em propinas por venda de sentenças e que Mara seria “intermediária” dos repasses para o marido. O juiz tem uma outra explicação. Segundo ele, sua mulher é empresária e transferiu os valores para bancar despesas suas, inclusive em sessões com pai de santo.
“De mais a mais, os valores repassados por Mara foram para o meu desenvolvimento espiritual e religioso”, alegou o magistrado em defesa prévia à Corregedoria Nacional de Justiça, que decretou seu afastamento das funções em outubro do ano passado, medida agora reiterada pelo Supremo Tribunal Federal.
Ele citou gastos que teria tido em sessões com pais de santo na Alta Magia Sociedade Religiosa Zé Pelintra do Catimbó e no Centro Espírita/Terreiro Nossa Senhora do Rosário.
Na quinta-feira, 29/5, Amarante foi alvo da oitava fase da Operação Sisamnes - juiz corrupto, segundo a mitologia persa -por ordem do ministro Cristiano Zanin, do STF.
Zanin é o relator das investigações sobre suposto esquema de venda de sentenças que se teria instalado nos Tribunais de Justiça de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul e alcançado gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça. O ministro decretou o bloqueio de R$ 30 milhões de Amarante e de outros investigados.
As suspeitas sobre o juiz surgiram a partir da quebra de sigilo do celular do advogado Roberto Zampieri, conhecido como o “lobista dos tribunais”, executado a tiros na porta de seu escritório de Cuiabá, em dezembro de 2023.
O celular de Zampieri foi encontrado ao lado de seu corpo. Diálogos recuperados pelos investigadores no aparelho do lobista revelam “amizade íntima” com o juiz. Na avaliação do corregedor nacional da Justiça, ministro Mauro Campbell, o juiz da Comarca de Vila Rica era “subserviente” a Zampieri.
A Corregedoria põe sob suspeita a versão de Amarante para a origem do dinheiro em sua conta. “Os valores depositados ocorriam, não raro, em montantes idênticos e elevados, estando, portanto, completamente dissociados da eventual atividade econômica por ela (Mara) desempenhada”, aponta a Corregedoria.
CHAVE PIX
Em uma conversa no WatsApp de junho de 2023, o juiz encaminhou ao lobista a chave Pix da mulher, o que reforçou as suspeitas de que ela teria sido usada como um canal de propinas para o marido.
Amarante nega. Segundo ele, “as transferências realizadas por Mara Patrícia são oriundas da conta bancária da pessoa física, e não jurídica”. “As menções e suposições sobre as empresas pertencentes a Mara Patrícia não possuem correlação com as transferências realizadas.”
Sobre o recebimento de R$ 750 mil, por meio de 43 depósitos, ele afirmou. “Tratou-se de transferências de menor valor, condizentes com a realidade fática jurídica, sem qualquer indício de irregularidade ou ilegalidade, pois o que se verifica são meras suposições e conjecturas.”
Com informações do Blog do Fausto Macedo, publicação Estado de São Paulo