O ano de 2024 registrou 30 milhões de hectares do território nacional atingidos por queimadas. Essa foi a segunda maior extensão que o fogo alcançou nos últimos 40 anos, ficando 62% acima da média para o período entre 1985 e 2024, como aponta o MapBiomas.
Os dados são da primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) e da Coleção 4 de mapas de cicatrizes de fogo do Brasil, divulgados nesta terça-feira (24/6).
BANCADA DA AGRICULTURA ATUA NO CONGRESSO NACIONAL PARA FACILITAR DESMANTAMENTO
A especialista no estudo de incêndios em diversos biomas, a pesquisadora Klécia Gili Massi, diz que existam duas razões principais para essas queimadas tão anormais: o primeiro é o uso do fogo em áreas públicas griladas para facilitar a ocupação dessas terras. Embora o Governo Federal atual tenha políticas ambientais mais firmes, o Congresso ainda é muito conservador, com uma bancada ruralista muito forte que tem tentado repetidamente flexibilizar leis para atender à demanda dos setores agrícolas. Paradoxalmente, esses são os primeiros setores a serem prejudicados pelas queimadas, então a agricultura brasileira deveria ser a primeira a defender pautas de proteção ambiental.
O segundo fator é o uso político do fogo, em uma tentativa de desestabilizar o governo, criando caos. Eu diria que a chance de os incêndios terem surgido por origem natural é mínima. Até porque temos de entender que o fogo de origem natural é desencadeado por um raio, e onde estava chovendo no Brasil naquela época? Em lugar nenhum. Fora isso, temos estudos que mostram que o fogo iniciado por raios geralmente se extingue rapidamente. Assim, é provável que os incêndios tenham origem humana, principalmente associados a práticas de desmatamento e interesses de forças políticas em desgastar o governo.
71,9% DAS QUEIMADAS AMÉRICA DO SUL
Os dados de desmatamento caíram, o que é positivo porque significa que os órgãos ambientais voltaram a funcionar. Mas precisamos reconhecer que o fogo está sendo usado como uma ferramenta de desmatamento. Não é mais apenas um reflexo de anos secos; há questões mais complexas por trás disso que exigem novas formas de combate.
Em setembro, outro dado alarmante: ao longo de 48 horas, o Brasil sozinho concentrou 71,9% das queimadas de toda a América do Sul.