Quando o dia começa para muitos cariocas, Helio Amaral, de 32 anos, já está encerrando sua primeira jornada de trabalho. Gari da Comlurb desde 2015, ele limpa as ruas da Zona Sul do Rio entre a meia-noite e as 6h da manhã. Mas, quando o sol nasce, é nas artes que ele se realiza. Helio é ator desde a adolescência e já participou de várias produções e da novela "Amor de mãe", em 2020.
Ele integra atualmente o elenco da série “Até aonde ele vai?”, disponível na plataforma Univer Vídeo, com exibição prevista para a TV aberta ainda este ano.
Nascido em Cavalcanti, criado em Sepetiba e morador do morro do Vidigal, Helio se desdobra entre a função pública e os palcos.
"Trabalho de madrugada justamente para eu ter o dia livre para me dedicar à arte, de forma geral. Dessa forma, eu consegui fazer meus cursos, workshops, conciliar com as gravações e minhas apresentações de teatro. Quando eu tenho uma gravação à noite, por exemplo, eu consigo me organizar para ter esse dia como folga, porque meus encarregados são muito compreensivos comigo, me apoiam e me incentivam".
A trajetória de Helio com a arte começou cedo, ainda na infância, quando aprendeu a tocar instrumentos musicais enquanto morava com os pais, zeladores de uma igreja. Na adolescência, aproximou-se do teatro, apaixonando-se de vez pela atuação. Formado pela Escola de Teatro Le Monde e atualmente estudante da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), ele acumula no currículo participações em novelas, peças e curtas-metragens.
Entre seus trabalhos estão participações em “O Primeiro Natal do Mundo”, “A Jornada de João Castello” e na série “Rainha Líer”, do Canal Demais, com direção de Quentin Lewis. Também integrou coletivos culturais de grande impacto social, como o Nós do Morro (Vidigal) e o Bando Cultural Favelado da Rocinha, além de ter dançado charme, samba e passinho na série “Tributos”, da TV Globo.
Pai solo de uma adolescente de 12 anos e também pai de um menino de 4, que vive com a mãe, Helio compartilha o trabalho como gari com luta por visibilidade artística. Em 2023, iniciou com a Firjan um documentário sobre sua própria trajetória, que retrata o cotidiano duplo entre o gari e o ator, além de destacar sua vivência como dançarino nas favelas cariocas.
Mesmo com a rotina puxada, ele não esconde o desejo de viver apenas da arte:
“Pretendo um dia, assim que conseguir me estabilizar como ator, largar a Comlurb e me dedicar só à arte. Sinto que não estou longe disso.”