Falar sobre sexo ainda é um tabu para muita gente, mas a curiosidade sobre o tema está sempre presente — especialmente quando o assunto é frequência. Afinal, existe um número ideal de relações sexuais por dia? Será que há um limite saudável ou tudo depende do desejo e da disposição do casal? Entre mitos, exageros e informações desencontradas, não faltam dúvidas sobre até onde o corpo pode ir quando o assunto é prazer.
Para ajudar a desvendar esse tema, ouvimos vários especialistas em saúde sexual masculina e feminina: Eduardo de Paula Miranda, coordenador da Disciplina de Reprodução Sexual do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia; Rafael Ribeiro, médico urologista e especialista em doenças do trato geniturinário e medicina sexual masculina; Felipe Maciel de Lima, médico urologista e membro das Sociedades Brasileira, Americana e Europeia de Urologia; e o ginecologista Guilherme Henrique Santos, da clínica Les Peaux. Confira!
Quantas vezes por dia é possível transar?
Segundo Eduardo de Paula Miranda, a pergunta não tem uma resposta exata. "É muito difícil a gente falar em o que é normal, anormal, capacidade máxima e capacidade mínima", afirma o médico.
"Durante o ciclo de resposta sexual, ou seja, quando o homem é estimulado, ele passa por um processo de excitação, ereção e resolução com orgasmo e ejaculação. Quando termina um orgasmo, existe uma liberação de várias substâncias neurotransmissoras no cérebro e entra-se em um estado chamado de período refratário, que é um momento em que você não consegue se estimular, precisa de um tempo para o seu organismo se recuperar, para esses neurotransmissores serem repostos pelo organismo e você consiga começar um novo ciclo. Esse período refratário varia muito entre as pessoas; tem gente que se recupera em poucos minutos, com o tempo, e homens com mais idade podem demorar até dias e semanas para se recuperar", explica Eduardo de Paula Miranda.
"Dito isso, é difícil a gente falar em [número] máximo. Os homens que se recuperam mais rápido conseguem se recuperar dentro de 15 a 30 minutos, então, ao longo de um dia, se a pessoa estiver muito bem estimulada e focada nesse propósito, pode chegar até mais de 10, 15 vezes. Porém, cada vez que você completa um ciclo desse, a recuperação vai ficando mais lenta", explica o especialista.
Segundo Rafael Ribeiro, em tese, é, sim, possível ter um número maior de relações sexuais no mesmo dia. "Definitivamente, não é comum. Principalmente no consultório, no dia a dia, a gente não está acostumado com esse tipo de relato. Mas não há nada que diga que seja tecnicamente impossível".
"Início de relacionamento, é claro que tem uma empolgação maior, né? Tecnicamente, a gente chama isso de desejo espontâneo. Você fica com tesão e realmente transa mais. Para não falar que é impossível, é quase igual ganhar na Mega-Sena, é um em um milhão", pondera o urologista Felipe Maciel de Lima.
Ereções ou orgasmos?
Ainda assim, o Dr. Felipe Maciel de Lima frisa que existe uma diferença entre a ereção do pênis e o que pode ser considerado uma relação completa, em que se atinge o orgasmo.
"Se formos considerar cinquenta ereções por semana, por exemplo, seria um número invejável, mas até é possível. É difícil, mas possível. Agora, cinquenta relações é praticamente impossível", avalia o médico.
O urologista Rafael Ribeiro explica que, em média, a frequência semanal do sexo considerada saudável para um casal jovem é de uma vez por semana: "Não existe um limite para que a frequência sexual deixe de ser saudável. Deixa de ser saudável quando começa a atrapalhar o dia a dia, a rotina, e a pessoa deixa de fazer outras coisas por conta do sexo. O importante é que seja sempre de forma consensual e que seja bom para todo mundo".
Sexo demais pode causar algum tipo de lesão nos órgãos sexuais?
Segundo Felipe, o aumento da frequência sexual pode causar lesões no pênis. "Esse tipo de trauma no pênis, no caso do homem, é até relativamente comum a gente pegar no consultório, quando se tem um aumento da frequência sexual ou uma relação sexual mais intensa. Pode ocorrer edema ali, um inchaço, às vezes faz uma lesão ou fissura, e isso mesmo com uma frequência muito menor", explica.
"Quanto mais você usa os órgãos sexuais, mais expostos eles estão. Tanto a pele quanto a mucosa podem ficar mais sensíveis, mas não necessariamente você vai ter alguma lesão ali. O ideal é que esteja sempre bem lubrificado e que se faça a higiene correta, tanto antes quanto depois do ato sexual, para evitar problemas", ensina o urologista Rafael Ribeiro.
No caso das mulheres, também pode haver lesões. "A utilização em excesso pode levar, sim, a escoriações, lesões da pele do canal vaginal por conta do atrito que a própria relação sexual gera. E se não estiver bem lubrificado, se não fizer devagar, se não tiver um espaço entre uma relação e outra, pode, sim, levar a alguma lesão", explica o ginecologista Guilherme Henrique Santos.
O uso de lubrificantes é recomendado?
Para evitar complicações, os médicos são unânimes: é preciso que haja lubrificação. "A lubrificação é sempre importante para evitar que machuque ali durante o atrito, com a fricção. O ideal é que sejam usados lubrificantes industriais, de boa qualidade, para melhorar essa questão, evitando lubrificantes caseiros para não correr risco de ter uma infecção secundária", explica o urologista Rafael Ribeiro.
O ginecologista Guilherme Henrique Santos concorda: "Para prevenir escoriações, o ideal é que a mulher sempre esteja bem lubrificada, então, por isso, os preliminares são importantes, principalmente para as mulheres. O uso de hidratantes e lubrificantes vaginais também pode ser muito bem indicado. É importante fazer devagar, com cuidado, sem maior risco de escoriar e machucar", defende.
"Se você for fazer sexo mais de 5, 7 vezes por dia, é indispensável utilizar lubrificante, principalmente no intróito vaginal, ali na entrada da vagina, que é a área que mais pode ter escoriação por conta de atrito e é uma área que não lubrifica tão bem, mesmo quando a mulher está bem excitada", explica o ginecologista.
Guilherme Henrique Santos, aliás, faz uma ressalva: deve-se evitar o uso de pomadas anestésicas. "Além de diminuir a sensibilidade, diminui as chances de você ver que tem uma fissura. Geralmente o uso da pomada anestésica é restrito a casos graves de vaginismo ou vagínia, que são doenças em que a paciente não consegue ter penetração por conta de dor", esclarece.
Após o ato sexual, existe algum tipo de cuidado ou indicação específico para a área?
"No caso do homem, fazer a higiene local ali, tanto antes quanto depois das relações, é importantíssimo. É um lugar que está sempre úmido, então está sujeito a contaminação, fungos, bactérias, tudo isso. Estar sempre limpo é fundamental", ensina o urologista Rafael Ribeiro.
Outro ponto fundamental é urinar após o ato sexual. "O jato urinário acaba levando para fora algum micro-organismo que possa estar acendendo ali o trato urinário através da uretra", explica o médico.
No caso da mulher, fazer xixi pós-sexo é ainda mais importante. "A mulher tem um fator de risco anatômico para poder ter infecção urinária porque a uretra é muito curta, tem de 3 a 5 centímetros. Então, a bactéria que entra ali na uretra chega muito rápido na bexiga e pode causar uma infecção. O homem tem o pênis, então a bactéria tem um caminho mais longo a percorrer porque a uretra está dentro do pênis", descreve Felipe Maciel de Lima.
"O correto é lavar e secar o pênis após a relação sexual, principalmente nos pacientes que têm inflamação de repetição, que a gente chama de balanopostite. Mas, no caso da mulher, a recomendação é urinar logo após a relação sexual, para poder lavar a uretra mesmo", recomenta o urologista.