O atacante Allano, do Operário-PR, tem sofrido ataques racistas nas redes sociais desde o episódio que denunciou Miguelito, do América-MG, por injúria racial no jogo entre os times pela sexta rodada da Série B do Brasileiro. O jogador do time mineiro chegou a ser preso e foi liberado de forma preventiva na última segunda-feira, em Ponta Grossa.
Números comentários aparecem com palavras de cunho racista, como "mono" (macaco, em espanhol), além de figuras de macacos e gorilas.
Muitas das postagens ainda estão acompanhadas com frases de apoio a Miguelito, a quem os autores consideram ter sido injustiçado com a denúncia de Allano.
Por conta dos ataques, o jogador do Operário-PR precisou restringir os comentários nas redes sociais apenas às pessoas que o seguem. Em algumas imagens ainda é possível observar que as ofensas racistas persistem.
Entenda o caso
O jogo Operário-PR x América-MG, pela sexta rodada da Série B do Brasileiro, foi marcado por uma denúncia de injúria racial, feita pelo atacante Allano, do Fantasma, e que teria sido feita pelo meia Miguelito, do time mineiro.
Após ser informado pelo jogador do Operário-PR do ocorrido, aos 30 minutos do primeiro tempo, o árbitro Alisson Sidnei Furtado utilizou o protocolo antirracista da Fifa e da CBF, sinalizando com os braços cruzados, na altura do peito, em forma de “X”. A denúncia de injúria racial consta na súmula.
A partida ficou paralisada por 15 minutos, com discussão entre os jogadores e a espera do árbitro para uma possível verificação de imagens, e foi retomada sem alterações ou cartão. Neste tempo, houve uma nova confusão, entre jogadores do América-MG e torcedores do Operário-PR que estavam atrás do banco.
Segundo o Operário-PR, um torcedor foi identificado por ter jogado um copo nos jogadores do América-MG e foi retirado por policiais militares.
A denúncia de Allano ocorreu aos 30 minutos. Após uma disputa de bola, os jogadores aguardavam a cobrança de uma falta lateral quando Miguelito virou em direção ao atacante do Operário-PR, que foi para cima do meia do América-MG, junto com Jacy, também do Fantasma, que estava próximo. Em seguida, eles foram até o árbitro para falar sobre o ocorrido.
Quando o jogo recomeçou, Allano recebeu amarelo por uma entrada mais forte em Miguelito. O jogador do América-MG foi substituído no intervalo.
Após o término da partida, o autor, a vítima e a testemunha foram conduzidas por uma equipe da Polícia Militar até a sede da 13ª Subdivisão Policial. Após ouvir os envolvidos, foi dada voz de prisão em flagrante a Miguelito pelo crime previsto na Lei nº 7.716/89.
Miguelito foi liberado nesta segunda-feira da prisão em Ponta Grossa e vai responder em liberdade pela denúncia de injúria racial contra o atacante Allano. A investigação segue e o Ministério Público pode denunciar o atleta, configurando ação penal.
A Polícia Civil já estabeleceu contato com os canais de transmissão da partida, através do advogado do Operário-PR, para obter imagens que possam ter registrado a fala racista. O jogador do América-MG teria proferido a expressão "Preto do C***" contra o jogador do Fantasma.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou a denúncia contra o América-MG e o meia Miguelito pelo caso de injúria racial a Allano, do Operário-PR, no jogo entre os times pela sexta rodada da Série B do Brasileiro. Ainda não foi marcada a data para que ocorra o julgamento.
Miguelito, acusado de ser o autor do ato discriminatório contra Allano, foi denunciado pela Procuradoria no artigo 243-G do CBJD, com possibilidade de pena de suspensão por 10 partidas e multa de R$ 100 mil reais.
A Procuradoria pediu, no entanto, a suspensão preventiva do jogador até o julgamento. O presidente do STJD acatou o pedido.
O Coelho foi denunciado pela Procuradoria por infringir o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que trata de atos discriminatórios, desdenhosos ou ultrajantes baseados em preconceito (étnico, racial, de gênero, etc...).
Assim, o clube mineiro pode ser punido com perda do mando de campo (portões fechados), além de perda de pontos na Série B e a obrigação de implementar políticas preventivas eficazes contra o racismo para conscientização de sua torcida e elenco.
Além disso, a procuradoria incluiu duas testemunhas no caso: o árbitro Alisson Sidnei Furtado e o volante Jacy, do Operário-PR. O primeiro relatou na súmula do jogo não ter ouvido a possível injúria racial, enquanto o segundo foi peça-chave para que a prisão em flagrante de Miguelito.
A Procuradoria também denunciou o Operário-PR, que será julgado com base no artigo 213, inciso II, do CBJD, pela conduta imprópria do torcedor, que cuspiu e arremessou bebida alcoólica em atleta do América-MG. A pena é de multa, que pode variar de R$ 100 a R$ 100 mil. Segundo o Operário-PR, o torcedor foi identificado e retirado pela polícia logo após o ocorrido.
Na segunda-feira, a CBF emitiu nota e acionou o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), pedindo "apuração rigorosa" no caso.