Em três dos quatro anos de “autonomia” do Banco Central (BC), ocorrido em 2021, apenas em 2023 a inflação permaneceu no intervalo de tolerância da inflação. Assim sendo, em 2021, 2022 e 2023, a inflação ocorreu acima da tolerância. E porque tal situação prevaleceu, se o Banco Central aplica o remédio amargo dos juros altíssimos para controlar a inflação?
A malfadada “autonomia” do Banco Central ocorreu em 2021, e nos quatro anos que se sucederam apenas em 2023 a inflação se enquadrou no intervalo de tolerância. Em 2021 a meta com meta estabelecida em 3,75% a inflação atingiu 5,79%; em 2022, meta de 3,5% e inflação de 10,06%; 2024 meta de 3,0% e inflação de 4,83%.
Na verdade, não precisa ir muito longe para perceber que a tal meta de inflação é um engodo para lesar o país, um ataque do sistema financeiro para, inescrupulosamente, embolsar a maior parte do orçamento público, logo o dinheiro dos impostos.
Propositalmente, a meta da inflação é um absurdo, como denuncia o ex-ministro Guido Mantega. A meta é irrealista e ditada pelo mercado financeiro que a empurrada para baixo para que ela sempre seja ultrapassada pela inflação, e, dessa forma, justificar o aumento da Taxa Básica de Juros (Selic). Aumentos absurdos, a ponto de cada 1% representar R$ 55 bilhões, pasmem!
A pretexto de combater a inflação, os aumentos absurdos dos juros arrancaram dos cofres públicos em 2024, a cifra astronômica de R$ 873,3 bilhões em juros, no acumulado de 12 meses. Enquanto isso, o setor público consolidado – União, empresas estatais, estados, Distrito Federal e municípios – acumularam déficit de R$ 75,2 bilhões. Trocando em miúdos, de um déficit público nominal de R$ 948,5 bilhões acumulado nos 12 meses até março de 2024, R$ 873,3 bilhões foram para pagar juros da dívida pública, elevados de maneira absurda em razão da taxa Selic muito elevada para favorecer os bancos, enquanto o déficit do setor público consolidado somou R$ 75,2 bilhões.
Essa afronta, o economista Bresser Pereira denuncia como responsável por perpetuar o subdesenvolvimento do Brasil, estagnação imposta porque o dinheiro dos impostos é surrupiado pelos bancos e sistema financeiro, deixando o país à mingua de recursos para políticas públicas essenciais em áreas estratégicas como a Saúde, Educação, Segurança, Saneamento Básico, Moradia e construção de obras estruturantes para alavancar o desenvolvimento do país.
E além de tudo, diariamente a grande mídia e serviçais da área política ainda vêm com a mentira deslavada de que o problema maior do Brasil é a gastança do setor público, quando os números demonstram que são os juros imorais que sugam os recursos dos cofres públicos.
Como denunciou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, a meta de 3% é absurda. O Brasil dificilmente consegue uma inflação tão baixa porque a economia é toda indexada”, explicou. Para ele, metas muito apertadas pressionam desnecessariamente a política monetária, gerando juros artificialmente altos.
Por fim, o ex-ministro defendeu que, com o câmbio mais valorizado, a inflação de alimentos — que alcança 8% em 12 meses — tende a ceder. “Essa inflação não baixa com taxa de juros. Você pode botar o juro a 30%, não vai baixar, porque ela se deve às cotações dos alimentos no exterior e ao câmbio”. Ele ainda avaliou que o Banco Central, ao notar uma inflação mais moderada nos próximos meses, terá o argumento necessário para iniciar cortes na taxa básica.
*Jornalista em Cuiabá e editor do Site Agenda MT