O governador Mauro Mendes (União Brasil) se fez presente no lançamento do “Programa Solo Vivo” no município de Campo Verde (131 Km de Cuiabá), em benefício de agricultores familiares, ocorrido neste sábado (24/5), projeto piloto que envolve 10 municípios e investimento inicial de R$ 42,8 milhões, que visa recuperar áreas degradadas e fortalecer a agricultura familiar, ao lado do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A participação de Mauro Mendes representa uma mudança de postura. Após comparecer no ato pró-anistia realizado em 16 de março em Copacabana, cidade do Rio de Janeiro, Mendes recusou-se a participar da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao estado, que ocorreu posteriormente em 4 de abril último para evento com o líder indígena Raoni Metuktire, realizado na Terra Indígena Capoto-Jarina, próxima ao Parque Indígena do Xingu. Lula retribuiria ao cacique Raoni Metuktire pelo gesto de ter subido à rampa do Palácio do Planalto durante sua posse, enquanto o líder indígena manifestaria agradecimento ao governo pela retirada de invasores e demarcação de terras, além da participação indígena na administração pública por meio da criação do Ministério dos Povos Indígenas.
Mendes justificou que não teria sido convidado, porém o comparecimento do governador à visita de um presidente da República é procedimento protocolar, que não pode deixar de ser cumprido, independente de diferenças política ou ideológico. E num claro gesto de hostilização, sequer recepcionou o presidente da República no aeroporto, além de comunicar cumpriria agenda na “Norte Show”, feira do agronegócio em Sinop (480 Km de Cuiabá), para ir ao encontro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que acabou não comparecendo em consequência de complicações no estado de saúde, que resultaram em nova cirurgia no local que levou facada no intestino na campanha eleitoral em 2019.
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Governador Mauro Mendes no ato pró-anistia realizado em Copacabana em 16 de março último, ao lado de Bolsonaro
AFUNILAMENTO NA CONJUNTURA
Em verdade, a quebra de protocolo, no que diz respeito ao presidente da República, tinha como alvo fortalecer laços com o bolsonarismo. Por outro lado, o governador Mauro Mendes deixou se influenciar pela leitura política de que o projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é fadado ao fracasso.
Todavia, os últimos acontecimentos acenam para alterações substanciais no cenário político. Primeiro, porque as manobras para reabilitar o ex-presidente Jair Bolsonaro à disputa na eleição presidencial de 2026 sucumbiram. As evidências sinalizam que em 2026 o ex-presidente estará preso e incomunicável, barrado de participar direta ou indiretamente da eleição. Numa segunda hipótese, o único candidato do campo da direita com potencial para enfrentar o presidente Lula trata-se de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, porém o ex-presidente Jair Bolsonaro não aceita apoiá-lo, e pretende lançar, ou o seu filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), ou a esposa, Michelle Bolsonaro (PL).
Os demais candidatos do campo da direita: Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Partido Novo-MG), ainda se encontram distantes de atingir um patamar competitivo, que possibilite vencer uma eleição presidencial, como demonstram pesquisas eleitorais de vários institutos.
Logo, a esperada reabilitação de Jair Bolsonaro para a disputa eleitoral caiu por terra, e diante da resistência de Bolsonaro em apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos), desenha-se um quadro eleitoral de debilitação de forças do campo da direita. A escassa esperança que ainda resta é Bolsonaro enxergar que a salvação para que possa escapar do cumprimento da dura pena de prisão que lhe bate à porta, seria apostar na eleição de Tarcísio de Freitas na troca de uma anistia.
PERCALÇOS AGRAVAM SITUAÇÃO
Não bastasse a conjuntura nacional adversa, os últimos fatos políticos em Mato Grosso trazem percalços que colocam obstáculos difíceis na construção do almejado projeto ao Senado anunciado por Mauro Mendes.
Explodiu como poderoso missel sobre o Palácio Paiaguás, a denúncia a respeito da nebulosa operação a respeito do pagamento de R$ 308 milhões à empresa Oi S.A. de telecomunicações. Denúncia que engrossou o cardápio de fatos negativos atribuídos a familiares do governador: sonegação de impostos e dívidas trabalhistas de empresas administradas por Virgínia Mendes e Luiz Taveira Mendes, esposa e filho de Mauro Mendes.
Fatos esses, que somados ao atraso das obras do BRT e hospitais regionais, consistem em ocorrências com potencial para implodir o projeto eleitoral do governador, num raio de ação que abrange 24 municípios, entre eles Cuiabá e Várzea Grande – Grande Cuiabá, povoadas por 1.189 milhão de habitantes e concentração de 641 mil eleitores – ao passo que no conjunto das 24 cidades e regiões prejudicadas pelas obras inacabadas, habitam 1,7 milhão de habitantes (44,7%) da população, e reúnem 1.014 milhão de eleitores (38,9%) do eleitorado.
HOSPITAIS REGIONAIS
As obras do hospital regional de Juína, foram iniciadas em maio de 2022, enquanto Tangará da Serra e Confresa, em junho do mesmo ano. Até o momento, 47%, 41% e 42%, respectivamente, foram concluídas, ou seja, menos da metade das obras foram edificadas em três anos, e faltando 19 meses para a realização da eleição no primeiro domingo de 2026, dia “D” do julgamento nas urnas sobre as realizações do atual governo.
Sob iminente risco da derrota eleitoral na disputa ao Senado, notas e matérias na imprensa ventilam a provável desistência do governador da disputa eleitoral em 2026, versão engrossada por revelações em off de fontes com trânsito nos bastidores do Paiaguás.