Em julho, a UE teve que aceitar um acordo desequilibrado com os EUA, que fixaram uma tarifa máxima e abrangente de 15% sobre as exportações europeias (uma redução de 5%) e, ao mesmo tempo, garantiram tarifa zero para um amplo conjunto de produtos americanos vendidos na UE. Além do mais, a UE foi pressionada a comprometer-se com investimentos nos EUA (US$ 600 bilhões) e a aquisição de bens energéticos e materiais de defesa de empresas norte-americanas pelos próximos três anos (US$ 750 bilhões).
No mesmo mês, Trump ameaçou o Brasil e, em seguida, assinou um decreto impondo aos produtos brasileiros uma tarifa de 50% (adicionando 40% aos 10% divulgado em abril). Apesar de uma longa lista de exceções divulgada pela Casa Branca, a tarifa de 50% incidirá sobre 35,9% das exportações brasileiras para os EUA, afetando produtos simbólicos como, por exemplo: café, manga e goiaba (frutas), carne, açúcar, chocolate e peças automotivas.
Risco perder 800 bilhões euros em exportações pressionou Europa
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Tendo os EUA como maior destino das exportações UE foi forçada a aceitar as imposições de Trump
UE percebeu que rejeitar as condições norte-americanas e, logo, retaliar com tarifas recíprocas colocariam em risco mais de € 800 bilhões (2024) em exportações de bens e serviços aos EUA. Embora os EUA sejam estatisticamente o maior destino das exportações da UE, sob a ótica geopolítica, tal dependência mostrou que a economia europeia está em uma posição vulnerável. É, por isso, que a UE se submeteu a um acordo desequilibrado com os EUA, confirmando a teoria econômica de que qualquer valor positivo é melhor do que nada (retaliando).
Brasil menos dependente de exportar para os EUA
Ao contrário da UE, o Brasil encontra-se economicamente menos exposto aos impasses norte-americanos. Isto porque apenas 12% do total das exportações brasileiras (US$ 40 bilhões) tem como destino os EUA. Logo, a retaliação econômica pode ser uma saída – já autorizada por Lula – para responder às sanções político-jurídicas dos EUA.
A triangulação EUA–UE–Mercosul e o “jogo de barganha”
A UE (responsável pela política comercial comum dos 27 países-membros) e o Mercosul (responsável pela política comercial de seus signatários, sendo que o Brasil responde por mais de 70% da economia do bloco) precisam acelerar a ratificação e a implementação do Acordo UE-Mercosul assinado em dezembro de 2024. Tal movimento estratégico pode ser visto como um “jogo de barganha”.
Enquanto os EUA buscam maximizar ganhos com tarifas unilaterais, a UE e o Brasil (via Mercosul) percebem que, diante de um rival comum, o Acordo UE–Mercosul deixa de ser apenas um tratado comercial para se tornar uma resposta estratégica a um ambiente internacional mais hostil.
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O acordo de livre comércio eliminará as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos
Em outras palavras, isto significa redirecionar parte das exportações europeias e parte das exportações sul-americanas para um novo mercado transatlântico – com 750 milhões de consumidores – que ofereça maior previsibilidade política.
No tabuleiro internacional, a lógica é simples: ao mesmo tempo em que a UE diminui sua vulnerabilidade frente aos EUA, o Mercosul amplia sua inserção internacional, reduzindo a vulnerabilidade política do seu maior jogador regional, o Brasil.
Estudos estimam que o Acordo UE-Mercosul pode aumentar o comércio bilateral em até 70% e o comércio intrarregional latino-americano em até 38%. Desse modo, resultaria a possibilidade de consolidar um bloco econômico cujo PIB agregado se equipararia ao dos EUA.