O Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia à Justiça contra o presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, os ex-dirigentes do clube Marcelo Mariano e Sérgio Moura, além do empresário Alex Cassundé pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto.
Também foram denunciados pelo MP os empresários Victor Henrique de Shimada e Ulisses de Souza Jorge, por lavagem de dinheiro.
Os promotores pedem que os denunciados paguem R$ 40 milhões de indenização ao clube. O MP também solicita à Justiça o bloqueio de bens de pessoas físicas e jurídicas citadas na investigação (saiba mais abaixo).
A acusação é resultado da investigação aberta no ano passado pela Polícia Civil de SP e pelo Ministério Público para apurar suspeitas de irregularidades no contrato de patrocínio entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet.
De acordo com o Ministério Público, "está muito claro os caminhos tortuosos e ilegais que o dinheiro percorreu a partir do momento em que saiu dos cofres corintianos" para pagamento da comissão pela suposta intermediação do contrato entre o clube e a VaideBet.
Segundo a denúncia, montante de mais de R$ 1 milhão "passou por empresas manifestamente fantasmas e, tudo indica, recebedoras 'em trânsito' de valores escusos provenientes de estruturas criminosas e de empresas, notadamente, utilizada para as mais diversas formas de lavagem de capitais."
Agora, cabe a um juiz acatar ou não a denúncia. Se ela for aceita, Augusto Melo, os ex-diretores e os empresários se tornarão réus. A partir de então, haverá um processo criminal com audiências, depoimentos, produção de provas e, ao final, a decisão do juiz.
Apesar de indiciamento da Polícia, o ex-diretor jurídico Yun Ki Lee não foi denunciado pelo MP. O órgão diz que pairam dúvidas "se ele se omitiu dolosamente para a consecução dos objetivos da associação delitiva ou se agiu com descuidado na sua recente função".
Pedido de indenização
O Ministério Público entende que a suposta trama criminosa entre os dirigentes do Corinthians e o empresário Alex Cassundé rendeu um prejuízo de R$ 40 milhões ao clube. Esse valor é referente a:
R$ 1,4 milhões pagos à Rede Social Media Design referentes a comissão pela intermediação do contrato com a VaideBet; Multa pelo rompimento do contrato com a Pixbet, ex-patrocinadora do clube, no valor de R$ 38.892.857,14,
Entenda o caso
Em janeiro de 2024, logo nos primeiros dias da gestão de Augusto Melo, o Corinthians anunciou acordo de patrocínio máster da VaideBet no valor de R$ 370 milhões por três anos.
Meses depois, foi revelado que no contrato havia uma empresa apontada como responsável por intermediar o acerto entre as partes. Tratava-se da Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé, que foi contratado para participar da campanha eleitoral de Augusto Melo.
A Rede Social Media Design teria direito a R$ 25 milhões pela intermediação. Deste montante, a empresa recebeu duas parcelas de R$ 700 mil, que totalizaram R$ 1,4 milhão. O repasse foi alvo de disputa interna do clube, sem o aval do diretor financeiro na época, Rozallah Santoro.
Na sequência, descobriu-se que a companhia de Cassundé repassou o dinheiro à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. Essa empresa, segundo a Polícia, é de fachada e possui como sócia uma mulher chamada Edna Oliveira dos Santos, moradora de uma área periférica da cidade de Peruíbe, cujos dados foram usados para a criação da Neoway. A Polícia não encontrou qualquer relação dela com o caso.
A investigação da Polícia fez a VaideBet acionar uma cláusula anticorrupção presente no contrato para rescindir a parceria, ainda em junho do ano passado. A empresa alegou que sua reputação foi prejudicada pelas notícias envolvendo a parceria com o clube.
Após colher provas e solicitar a quebra de sigilos bancários, a Polícia descobriu que o dinheiro pago à Neoway percorreu diversas empresas até chegar à UJ Football, agência de gestão de carreiras esportivas que pertence a Ulisses Jorge e embolsou R$ 1.074.150,00.
No entendimento da Polícia, a UJ Football recebeu esse valor como pagamento de despesas da campanha eleitoral do Corinthians. Esta empresa teve o envolvimento com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) denunciado por Antônio Vinícius Lopes Grizbach, empresário assassinado em 11 de novembro, no aeroporto de Guarulhos.
Já Victor Henrique de Oliveira Shimada é sócio da Victory Trading Intermediação, uma das empresas pelas quais o dinheiro passou e que teria sido utilizada para dificultar o rastreio dos valores.