O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu neste sábado (14/6) com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e com seu antecessor, o deputado Arthur Lira (PP-AL), para discutir a crise entre o Executivo e o Legislativo em torno do pacote fiscal apresentado pelo governo.
A reunião, realizada no Palácio da Alvorada, foi convocada após a cúpula da Câmara sinalizar que a Medida Provisória com aumento de impostos — entre eles a elevação da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) — enfrenta resistência e não avançará sem a inclusão de medidas efetivas de corte de despesas. Segundo os parlamentares, a relação com o governo está deteriorada e o Congresso se recusa a arcar, mais uma vez, com o ônus político de votar por aumento de tributos sem contrapartidas.
A principal cobrança feita a Lula por Motta e Lira foi a execução das emendas parlamentares previstas no Orçamento. Até o momento, o governo empenhou apenas R$ 85 milhões de um total de R$ 50,4 bilhões reservados para 2025 — o que representa 0,1% do valor previsto. Além disso, parlamentares acusam o Planalto de não ter cumprido promessas anteriores de pagamento de verbas extras em troca do apoio ao ajuste fiscal votado no fim de 2024. O clima entre o Legislativo e o Executivo, nas palavras de líderes da Câmara, é de “desconfiança total”.
Durante o encontro, Motta reiterou a Lula que não vê mais espaço político para novas rodadas de aumento de impostos, alertando que a sociedade está exaurida e que o Congresso já enfrentou desgaste suficiente. “Não dá para discutir um novo pacote a cada três meses”, teria dito o presidente da Câmara, em referência ao ritmo acelerado com que o governo tem tentado recompor suas finanças.
Também foi apontado como ponto de atrito o conteúdo da própria medida provisória, que, segundo os líderes, pela falta de propostas mais estruturantes de corte de gastos e contenção de despesas de médio e longo prazo.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que também participou do encontro, comprometeu-se a agilizar a liberação de emendas, prometendo empenhar ao menos R$ 600 milhões ainda no fim de semana. Ela explicou que parte do atraso se deve às mudanças impostas pelo Supremo Tribunal Federal na execução das emendas, que agora exigem apresentação de plano de trabalho pelas prefeituras antes do repasse.
A articulação de Hugo Motta inclui a votação, já nesta segunda-feira (16/6), do requerimento de urgência para o projeto de decreto legislativo que visa barrar o decreto do governo sobre o IOF. Isso pressiona ainda mais o Planalto a reequilibrar sua relação com o Congresso e encontrar soluções para o financiamento do Estado sem aprofundar a carga tributária.
Ao final do encontro, Lula deixou o Alvorada sem fazer declarações, partindo para uma agenda no Nordeste relacionada ao sistema de alertas da Defesa Civil. A crise com o Congresso, no entanto, continua a se aprofundar, com o risco de o governo ver seu pacote fiscal desidratado antes mesmo de começar a tramitar.
EXCLUSÃO DE HADDAD DA REUNIÃO EVIDENCIA ISOLAMENTO EQUIPE ECONÔMICA
A ausência notável do encontro foi a do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não foi convidado, apesar de o tema central ser justamente a arrecadação e o equilíbrio fiscal.
O silêncio do ministro Haddad sobre o episódio e sua exclusão da reunião evidenciam o isolamento crescente da equipe econômica. Enquanto isso, Lula tenta segurar sua base de apoio com promessas de liberação de recursos — uma estratégia já desgastada pelo histórico recente de descumprimento.