Após a condenação de Jair Bolsonaro por uma tentativa de golpe de Estado, aliados do ex-presidente aumentaram a mobilização pela votação de uma anistia, mas há obstáculos políticos para que um “perdão amplo” seja concedido. Pessoas próximas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dizem que a proposta de preferência da oposição se tornou um tema impopular e mal visto pela sociedade. Esses mesmos interlocutores avaliam que não há votos para uma espécie de “liberou gerou”, embora a elaboração de uma alternativa mais branda, que mantenha a inelegibilidade do próprio Bolsonaro, tenha mais chance de prosperar entre deputados ou senadores.
Na segunda-feira (15/9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Motta para um almoço no Palácio da Alvorada, ocasião em que reforçou sua posição para que a Câmara não vote o projeto de anistia. Nos últimos dias, o deputado também tem manifestado a intenção de evitar um confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), que vê o perdão total como inconstitucional.
Na Casa ao lado [Senado], o presidente David Alcolumbre (União-AP) debate um texto que altera o Código Penal e, com isso, diminui as penas de envolvidos no 8/1 e, por consequência, na trama golpista. O projeto foca nos crimes de tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito.
Ao mesmo tempo em que buscam contornar resistências em diferentes partidos, bolsonaristas enfrentam um mal-estar interno desde o sábado (13/9), quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, admitiu a existência da tentativa de golpe — assunto que foi objeto de julgamento pelo STF. Diante da repercussão da fala, o dirigente partidário resolveu recuar na segunda-feira (15/9) e negar o próprio discurso.
Em meio ao ambiente tumultuado, dirigentes do PL já receberam a sinalização de que Motta resiste a uma anistia ampla. Como O GLOBO antecipou, o deputado tem repetido que não há clima na Casa. Um interlocutor próximo ao parlamentar reforçou que a ideia é “pacificar o país”, mas que o caminho não passa por uma anistia irrestrita. Entre os governistas, há quem diga que a proposta deveria ter a urgência votada em plenário para ser derrotada de uma vez.