Jair Bolsonaro, em seu interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10/6), diante de Alexandre de Moraes, mesmo confrontado com as informações prestadas à Corte pelo seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, manteve sua postura negacionista ao dizer que não conhece nem apresentou a minuta de um decreto prevendo a interrupção do processo democrático, o cancelamento da posse do presidente eleito e já diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva, e a intervenção na Justiça Eleitoral.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou o ex-presidente por mobilizar chefes militares em dezembro de 2022, após a derrota eleitoral, incluindo a presença de seu vice, Braga Netto, que já havia deixado o cargo de ministro, para respaldar o decreto golpista.
Bolsonaro, usando de desculpas, disse que a reunião foi convocada para “discutir hipóteses” e atribui decisão ao seu “temperamento” — na ocasião, segundo as investigações, houve conversa sobre alternativas para evitar o reconhecimento da vitória de Lula.
Buscando minimizar a gravidade dos fatos, disse apenas que, na ocasião, foram apresentados apenas “considerandos” em um telão no computador operado por Mauro Cid e que não se tratava de uma minuta de golpe, somente um documento sem cabeçalho.
Acrescentou que o assessor especial Filipi Martins foi “bater um papo” com ele, acompanhado de um padre, e nega ter recebido documento que esboçava uma tomada de poder com base no artigo 142 da Constituição. A entrega do texto a Bolsonaro foi delatada por Mauro Cid, que diz que estava presente na reunião e testemunhou o ocorrido.
Sobre o documento golpista apreendido em sua sala no Partido Liberal (PL), foi lacônico: “alguém pegou em algum lugar esse discurso aí”, jogando a responsabilidade a terceiros, sem nominá-los. O texto encontrado pela PF no seu gabinete na sede do partido esboçava discurso presidencial em caso de golpe.
SOUBE DO PLANO ASSASSINAR LULA, ALEXANDRE MORAES E ALCKMIM, PELA IMPRENSA ALEGOU BOLSONARO
O ex-presidente socorreu-se na narrativa de que, se tivesse realmente com a intenção de promover um golpe, teria trocado os comandos militares por militares alinhados ao seu objetivo, passando, claramente, a ideia de que estava enfrentando resistência por parte dos comandantes militares, principalmente o do Exército e da Aeronáutica.
Não por acaso, no relatório da Polícia Federal (PF), constavam fartas mensagens de Braga Netto, vice de Bolsonaro e seu fiel defensor, com ferozes ataques ao general Freire Gomes, do Exército, e ao brigadeiro Baptista Júnior, da Aeronáutica, no que foi corroborado por Mauro Cid em sua delação.
Em outro trecho de seu interrogatório, Bolsonaro diz que soube de planos para monitorar e assassinar Moraes e Lula pela imprensa. “Nem sei o que Braga Netto estava fazendo lá”, diz Bolsonaro sobre reunião com militares após a eleição.
No entanto, a investigação da PF e a denúncia oferecida pela PGR demonstram, de forma cabal, que o então presidente, depois de derrotado por Lula, praticamente, abandonou o governo e dedicou-se, exclusiva e doentiamente, à tarefa de construir uma saída para continuar no poder. Portanto, inverossímil a narrativa de que não tinha conhecimento dos passos de Braga Netto, seu parceiro de chapa na disputa eleitoral.