O submarino Titan implodiu por ter sido projetado de forma inadequada e por "graves falhas" de protocolos de segurança da empresa Oceangate, dona do veículo, afirmou a Guarda Costeira dos Estados Unidos em relatório final da investigação sobre a implosão divulgado nesta terça-feira (05/08).
Ainda segundo a Guarda Costeira americana, o desastre ocorrido em 2023 é considerado evitável, e a principal causa que levou à implosão do Titan foi a perda de integridade estrutural de seu casco de fibra de carbono.
O submarino Titan desapareceu no dia 18 de junho de 2023 durante uma expedição aos destroços do navio Titanic. Havia 5 pessoas no veículo, o então diretor-executivo da Oceangate, Richard Stockton Rush, um copiloto e três bilionários. Segundo a investigação, o veículo implodiu a cerca de 3.350 metros de profundidade por conta da pressão da água e todos os passageiros morreram instantaneamente.
"A principal causa [da implosão] é o fato de a Oceangate não ter seguido protocolos de engenharia estabelecidos para segurança, testes e manutenção do submersível. (...) Por vários anos antes do incidente, a empresa usou táticas de intimidação, o argumento de que realizava operações científicas e sua reputação positiva para escapar da fiscalização. Ao criar e explorar de forma estratégica uma confusão acerca das regras e supervisões, a empresa conseguiu operar o Titan totalmente fora dos protocolos estabelecidos para mergulhos em grandes profundidades", afirmou a Guarda Costeira americana.
O documento também apontou falhas nos processos de certificação, manutenção e inspeção do submarino, além de "uma cultura de trabalho tóxica na Oceangate". Veja abaixo as causas da implosão listadas pela Guarda Costeira americana:
· O design do Titan e testes conduzidos pela Oceangate não seguiram princípios básicos de engenharia para construir um casco resistente o suficiente para operar com segurança em ambientes de alta pressão;
· O casco do submarino, feito de fibra de carbono, apresentava falhas que enfraqueceram a estrutura como um todo, e cita elementos como enrolamento, cura, colagem, espessura do casco e padrões de fabricação;
· A Oceangate não investigou a fundo incidentes anteriores à expedição ao Titanic que comprometeram a integridade do casco e de outros componentes críticos do Titan, e continuou o utilizando sem realizar inspeções adequadas.
· A Oceangate não fez um estudo para determinar a vida útil do casco do Titan, e não fez manutenções preventivas durante período em que ficou fora de operação antes da expedição ao Titanic em 2023;
· A Oceangate confiou excessivamente em um sistema de monitoramento em tempo real para avaliar a condição do casco, mas não analisou adequadamente os dados fornecidos por esse sistema;
· A empresa mantinha um ambiente de trabalho tóxico, em que usava demissões de funcionários experientes e a constante ameaça de desligamento para desencorajar empregados e prestadores de serviço a levantarem preocupações sobre segurança.
O relatório divulgado nesta terça corrobora relatos de fragilidades do submarino Titan e negligência dos donos da Oceangate durante testemunhos de ex-funcionários da empresa em audiência pública em 2024.
Uma audiência pública do Conselho de Investigação Marítima da Guarda Costeira dos EUA feita em setembro de 2024 revelou falhas no Titan, detalhes da implosão do submarino e incidentes anteriores ignorados pela Oceangate.
O ex-diretor de operações da Oceangate, David Lochridge, disse ter avisado sobre falhas do submarino Titan em grandes profundidades em 2018, cinco anos antes da implosão. Após relatar problemas com a fibra de carbono e pedir mais testes no submarino, inclusive na profundidade dos destroços do Titanic, ele foi demitido.
A constituição do casco do Titan, feito de fibra de carbono, é um tema visado por especialistas. O engenheiro principal da American Bureau of Shipping, Roy Thomas, disse em testemunho que apesar de ser um material forte e leve, a fibra de carbono é “suscetível a falhas por fadiga” sob pressurização repetida e a água salgada pode enfraquecer o material de várias maneiras.
Segundo autoridades da Guarda Costeira, o submarino não havia sido revisado de forma independente, como é prática comum. O cofundador da Oceangate, Guillermo Sohnlein, afirma que o Titan tinha certificações e vínculos com a Nasa e a Boeing, porém funcionários das empresas relataram participação limitada no processo de criação do Titan, por ser um submarino experimental e pela Oceangate não ter acatado recomendações.
Testemunhas relataram na audiência que ouviram sons altos de estalos em expedições anteriores à da implosão. O engenheiro do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês) Don Kramer afirmou que o casco do Titan apresentava imperfeições que remontam ao processo de fabricação e se comportou de maneira diferente após um "forte estrondo" ser ouvido durante mergulho um ano antes da tragédia.
O Titan também apresentou falhas apenas dias antes da expedição que resultou na implosão, segundo o ex-diretor científico da Oceangate, Steven Ross. Durante um mergulho, o submarino ficou instável e fez com que os passageiros a bordo fossem "lançados de um lado para o outro" —o incidente levou uma hora para retirar a embarcação da água.
Matthew McCoy, um ex-funcionário da Oceangate, relatou ter se demitido após uma conversa "tensa" em que Stockton Rush disse a ele que o submarino seria registrado nas Bahamas e lançada do Canadá para evitar a fiscalização dos EUA. Segundo McCoy, Rush lhe falou a ele que "se a Guarda Costeira se tornasse um problema, então ele compraria um congressista para resolver a questão."
Em outro depoimento, um passageiro que pagou para uma expedição ao Titanic em 2021 disse que a jornada foi abortada após o submarino começar a apresentar problemas mecânicos: "Percebemos que tudo o que ele conseguia fazer era girar em círculos, fazendo curvas à direita", disse Fred Hagen.