Antes da importante vitória sobre o Bragantino fora de casa, a quarta-feira foi agitada fora de campo no Flamengo. Após mensagem vazada sobre a situação clínica de De la Cruz, o chefe do departamento médico do clube, José Luiz Runco, foi demitido a mando do presidente Bap. A situação do profissional ficou insustentável diante da repercussão negativa do caso e da pressão interna.
– Independentemente de quem for, se for o Nico ou outro jogador, a gente tem que estar juntos. É muito difícil estar focado dentro do campo e treinando quando acontecem coisas assim. Eu já tenho seis anos no Flamengo e sempre acontecem muitas coisas. Temos que continuar focados no campo, tentando fazer o melhor. Extracampo tentamos nos fechar para que isso não interfira, mas têm situações pontuais que são difíceis – afirmou Arrascaeta na saída do estádio Cícero de Souza Marques.
No clube, existe a expectativa de que o clima se acalme, mas os jogadores se incomodaram muito com a exposição. A primeira reação do Flamengo ao saber do vazamento, na terça, foi dizer que não comentaria as mensagens de Runco, mas a notícia caiu como uma bomba internamente.
Pressionado por aliados, Bap agiu e centralizou as ações para tentar selar a paz novamente dentro do clube. Agora, há uma dúvida nos bastidores sobre a continuidade dos profissionais indicados por Runco nos cargos.
Os principais nomes que chegaram ligados a ele foram os fisioterapeutas Fábio Marcelo e Fernando Campbell, o fisiologista Claudio Pavanelli e a nutricionista Silvia Ferreira. Com a demissão de quase 40 pessoas no início do ano, foi de responsabilidade do chefe do DM a remontagem do setor. Com o clima de insegurança e desconfiança existente principalmente no futebol, há chances de mudanças.
Na quarta-feira, a movimentação passou diretamente pelo presidente, que teve como objetivo principal fazer com que o futebol se desvinculasse completamente de Runco. "Assunto da Gávea", foi uma frase dita por diversas fontes ao longo do dia.
Ao departamento de futebol coube apenas uma nota oficial no início da tarde, afirmando que a mensagem não foi escrita por nenhum dos cinco médicos que integram a pasta. Ou seja, os profissionais que são os responsáveis pelo atendimento diário aos atletas em treinamentos, jogos e viagens. Os integrantes da diretoria ligada ao time profissional foram orientados a não falar mais sobre o assunto e deixar o tema com Bap e a Gávea.
Runco participava de algumas decisões mais importantes dentro do futebol, como a comunicação com seleções, e era consultado em outros casos. Fernando Sassaki, chefe do setor, tinha autonomia para agir, mas sempre comunicando e dividindo com seu superior.
O ex-médico da Seleção não fazia parte do dia a dia, mas costumava ir ao Ninho uma ou duas vezes por semana. Antes, marcava presença praticamente todos os dias, mas havia sido orientado pelo departamento de futebol para diminuir a frequência no Ninho.
Nos momentos em que estava no CT, fazia reuniões com o DM e em alguns casos até conversava e avaliava atletas, mas não era um hábito. Da mesma forma, ele também não ficava por dentro da situação clínica de atletas dos esportes olímpicos. É nisso que o lado do Ninho se apoia para se distanciar do agora ex-chefe do DM. No futebol, o desafio agora será acalmar os ânimos e reestabelecer a confiança dos atletas no DM.
Antes da revolta com a mensagem, já havia insatisfação e preocupação do elenco ligadas à metodologia aplicada pelos profissionais que assumiram este ano. Os jogadores relatam a pessoas próximas que alguns processos são "completamente distintos" daquilo que observaram na medicina esportiva atual em outros clubes, seja no Brasil ou na Europa. Alguns são considerados "ultrapassados".
Bap continua sem dar declarações públicas sore o assunto. O Flamengo tampouco divulgou oficialmente a demissão, embora ela tenha ocorrido na tarde de quarta.
A ideia por trás da contratação de Runco, além de força política, era que ele fosse o responsável por padronizar a medicina no clube, indicando profissionais de sua confiança para cada departamento. Ele promoveu uma profunda reformulação, mas os atritos chegaram ao limite depois de sete meses.