O pai ausente é um fenômeno cada vez mais comum nas famílias brasileiras, segundo dados do Censo 2022 divulgados no começo deste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há no país 7,8 milhões de mulheres que criam filhos sem a presença do cônjuge.
São 2,6 milhões a mais do que em 2000. A proporção de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge e com filhos está se tornando comum cada vez mais rápido. Passou de 11,6% em 2000 para 13,5% em 2022, segundo o IBGE.
O fenômeno pode ter efeitos sociais graves. Há décadas, pesquisas mostram que crianças que crescem sem pai correm mais risco maior de se envolver em comportamentos agressivos e crimes na adolescência.
Em 2020, uma revisão sistemática de pesquisas sobre o assunto publicada no periódico científico Psychology, Crime & Law analisou 48 estudos e confirmou que crescer em família monoparental aumenta o risco de envolvimento com crime na adolescência.
O efeito é mais evidente entre meninos e em bairros violentos. Entre os mortos na megaoperação da polícia do Rio de Janeiro no fim de outubro, de acordo com o jornal O Globo, pelo menos um terço tinha histórico de pai ausente.
AUSÊNCIA DA FIGURA PATERNA PROVOCA TENDÊNCIA À TRANSGRESSÃO
A presença paterna, segundo o psicólogo Geison Isidro, oferece às crianças uma referência prática de estabilidade, segurança e coragem, aspectos que costumam ser reforçados por características masculinas.
"Os pais costumam incentivar os filhos a enfrentar algumas situações, enquanto que as mães tendem a proteger os filhos das situações desafiadoras.
A figura masculina contribui para o desenvolvimento de uma série de habilidades e de competências para a vida." As consequências da ausência paterna, segundo ele, envolvem "uma tendência maior à transgressão" e "uma insegurança maior diante da vida, que pode se converter depois em aumento de agressividade".
"Especialmente se você está falando de uma criança do sexo masculino, um menino com muito medo, geralmente, vai ter maior propensão à agressividade, porque ele usa a agressividade como uma espécie de compensação à insegurança que ele tem", explica.
Outro efeito da falta da figura paterna é, de acordo com o psicólogo, "a diminuição do autocontrole e uma tendência maior a vícios". "E esses vícios são de diferentes naturezas.
Não só um vício em substâncias, mas em sexo, jogos, telas etc." Há, além disso, "uma tendência maior à violência doméstica".
Isidro critica a ideia comum em certos círculos ideológicos de que o homem seria dispensável na formação de uma criança. Por outro lado, ele ressalta que parentes ou outras figuras masculinas poderiam suprir, em alguma medida, o papel de um pai ausente.
"A figura masculina pode ser um avô, um tio próximo, um padrasto, um professor… Essa referência masculina pode ensinar certas virtudes e repertórios e compensar ausência de um pai – uma figura masculina que tenha a oportunidade e principalmente o compromisso de assumir esse processo formativo.
Muitas mães nessas condições são heróicas no que fazem, mas certamente não teriam a habilidade de suprir a ausência do pai.
Às vezes, observo que, pela própria falta de uma figura masculina, elas mesmas entram em um processo de insegurança, e podem acabar caindo em superproteção ou agressividade em relação ao filho", diz.


