Uma operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) resultou em multas que somam R$ 4,5 milhões à Minerbrás Mineração, empresa registrada em nome de Luís Antonio Taveira Mendes, filho do governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), informa Tácio Lorran, do Metrópoles.
As autuações foram aplicadas no início de junho, durante a Operação Almadén, que visa combater o uso indevido de mercúrio em garimpos e mineradoras na região de Sinop e Poconé, no estado. A primeira multa, de R$ 3 milhões, foi motivada pela constatação de que a Minerbrás realizava a amalgamação de ouro com mercúrio em desacordo com a licença ambiental. A segunda penalidade, no valor de R$ 1,5 milhão, ocorreu após o Ibama encontrar 1,2 quilo de mercúrio de origem não comprovada, armazenado para uso nas atividades da mineradora.
A empresa tem sede em Nossa Senhora do Livramento (MT) e, segundo os registros da Receita Federal, tem Luís Antonio Mendes como único sócio. Aos 28 anos, o empresário é proprietário de diversas empresas ligadas à mineração, incluindo a Sollo Mineração S.A., da qual é presidente.
A Minerbrás contestou as autuações, classificando-as como “equivocadas, absurdas e ilegais”. A empresa afirmou que o mercúrio apreendido estava fora de suas instalações e pertencia a terceiros: “no dia da autuação, a planta da Minerbrás encontrava-se paralisada para manutenção há mais de uma semana, conforme reconhecido pelos próprios agentes. No local do suposto ilícito, nenhum funcionário da empresa foi identificado pelos agentes do Ibama”.
O setor jurídico da Minerbrás também afirmou que Luís Antonio “não é administrador" da empresa e “não possui qualquer relação com os fatos narrados nos autos de infração”. Apesar disso, os dados da Receita Federal confirmam que ele é o único sócio da mineradora. A empresa registrou um boletim de ocorrência contra o Ibama em protesto pelas autuações.
A operação Almadén tem como antecedente as ações Hermes Hg I (2022) e Hermes Hg II (2023), coordenadas pelo Ibama, Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), com foco no combate ao contrabando de mercúrio no país. Essas investigações revelaram a atuação do “Grupo Veggi”, organização criminosa acusada de introduzir clandestinamente o metal no território nacional.
Na segunda fase da Operação Hermes, o nome de Luís Antonio Mendes apareceu entre os principais compradores e receptores do mercúrio contrabandeado. Ele era sócio, à época, das empresas Kin Mineração Ltda. e Mineração Aricá Ltda., sendo que esta última também foi multada pelo Ibama. Após as investigações, o Grupo Sollo alegou que rompeu relações com as duas companhias.
Além da mineração, Luís Antonio Mendes comanda um conglomerado empresarial que inclui atuação nos setores de energia, construção civil, incorporação imobiliária e locação de máquinas pesadas. Em sua página no LinkedIn, ele se identifica como diretor administrativo e financeiro do Grupo Sollo desde 2021, após atuar como gerente da mesma organização. Diz ainda ser bacharel em Direito.
O Brasil não possui atividade de extração ou beneficiamento de mercúrio. Por isso, o metal só pode circular legalmente mediante importação ou reciclagem por empresas autorizadas, e todas as transações devem ser registradas no Relatório de Mercúrio do Ibama. Contudo, na Operação Almadén, o órgão federal constatou que nenhuma das mineradoras fiscalizadas em Mato Grosso apresentou documentação que atestasse a legalidade da origem do mercúrio apreendido.