A prisão de um homem acusado de pedofilia em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, acendeu um alerta na cidade. Além de cometer abusos sexuais, o suspeito teria um perfil com fotos de crianças que ele pegava nas redes das mães e em computadores e celulares que consertava.
O caso retrata como predadores sexuais se aproveitam de perfis abertos de famílias que publicam imagens de seus filhos nas redes para abastecerem círculos criminosos. De acordo com especialistas, as fotografias mais cobiçadas são das crianças sozinhas em situações inocentes que acabam sendo sexualizadas por pedófilos.
“Minha vizinha viu que a foto da filha estava lá e me ligou desesperada para saber como tiraria. Mesmo com o homem preso, levou dois meses para o Instagram remover o conteúdo. E só fez depois de um pedido do Ministério Público”, afirmou Priscila Mota, advogada que atendeu a família no caso.
Na semana passada, o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, chamou a atenção para o tema com um vídeo sobre adultização. Além de crianças e adolescentes sendo explorados, ele mostrou a facilidade com que algumas redes sociais distribuem fotos de crianças para adultos pedófilos.
“Não exponha sua criança de nenhuma forma. Os criminosos, os predadores, têm mentes distorcidas da realidade. Não exponha. Eles estão vendo algo que você não está vendo. Ninguém está vendo. Mas eles estão vendo por essa ótica. Protejam suas crianças. Isso está acontecendo”, defendeu Felca.
Especialistas apontam que fotos e vídeos de crianças dançando, trocando fralda, comendo alguns alimentos como banana e engatinhando são as mais cobiçadas pelos predadores.
— Uma coisa que eles gostam muito é a criança tomando sorvete, lambuzada. As mães acham bonitinho e postam. Mas os criminosos fazem uma projeção disso em um ato sexual — avisa a juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Adolescência do Rio, a maior do Brasil, e criadora do protocolo Eu Te Vejo, para proteger crianças e adolescentes de crimes e extremismo on-line.
Segundo Parca, uma parte dos criminosos possui desejo por imagens que não são explícitas e encontram esses conteúdos nas redes sociais com alguma facilidade.
— Alguns abusadores buscam imagens mais pesadas, mas outros, não. Então, procuram fotos de bebês sendo amamentados, crianças de biquíni ou descendo no escorregador com um pedaço da calcinha aparecendo. Tem várias imagens de que eles gostam — diz a delegada da PF.
Evite postar
Apesar de haver uma preferência por alguns tipos de imagens, os especialistas ressaltam que quaisquer conteúdos de crianças sozinhas podem abastecer pedófilos. Por isso, a recomendação unânime é para que não se publique esse tipo de imagem, especialmente em perfis abertos. No entanto, mesmo as pessoas que só liberam o acesso aos amigos no Instagram em contas fechadas também correm risco com essa exposição.
— Em perfis fechados, os criminosos usam uma técnica de ficar amigo do amigo do alvo que ele quer, e ele pede amizade de quem ele quer. E a pessoa aceita porque é amigo do amigo. É uma engenharia social que eles fazem para ser aceitos — diz Parca.