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Variedades Sábado, 09 de Agosto de 2025, 19:18 - A | A

Sábado, 09 de Agosto de 2025, 19h:18 - A | A

Gurufim celebra legado de Arlindo Cruz: velório festivo com samba e homenagens na quadra do Império Serrano

Cantor e compositor que morreu nesta sexta será enterrado na quadra do Império Serrano com presença da bateria da agremiação. Gurufim, tradição trazida pelos escravizados, com música e bebida. É uma homenagem a quem partiu

Da Redação

‘Eu vou fingir que morri, pra ver quem vai chorar por mim e quem vai ficar gargalhando no meu gurufim. Quem vai beber minha cachaça e tomar do meu café e quem vai ficar paquerando a minha mulher". Os versos irreverentes de J. Carioca - já gravados por Arlindo Cruz, que morreu nesta sexta-feira (8) - evocam o espírito do gurufim: uma despedida marcada não apenas pela saudade, mas também pela celebração da vida.

Neste sábado (9), o velório de Arlindo será realizado na quadra do Império Serrano, em Madureira, Zona Norte do Rio, em formato de gurufim — uma tradição trazida ao Brasil por africanos escravizados. A cerimônia para Arlindo terá inclusive a presença da bateria da escola.

Comum entre personalidades do mundo do samba, o gurufim é uma cerimônia funerária festiva, com música, dança, comida e bebida. É uma forma de homenagear quem partiu, celebrando sua trajetória com alegria.

Segundo o historiador Luiz Antônio Simas, o gurufim mistura luto e festa, onde o som do samba divide espaço com homenagens e memórias afetivas.

“É uma forma de dizer adeus com alegria, mantendo viva a essência de quem partiu”, explica.

Simas afirma ainda que o ritual era uma maneira de driblar a morte: enquanto as pessoas cantavam e festejavam no velório, a morte “passava reto”, enganada pela energia da vida que pulsava no ambiente.

“Gurufim, segundo Luís da Câmara Cascudo, seria golfinho. E o golfinho, em diversas tradições, é um animal que conduz as pessoas ao reino dos mortos. Nas comunidades antigas do Mediterrâneo, isso era muito comum. Então, o golfinho está ligado ao condutor do reino da morte”, diz o historiador.

O gurufim é, portanto, um velório festivo, marcado por música, comida e memórias, especialmente comum entre sambistas e personalidades ligadas ao gênero.

“Era uma brincadeira que se fazia bastante em velórios, sobretudo nas comunidades mais pobres e entre descendentes de africanos e africanas. Temos referências das décadas de 1930 e 1940. Há uma reportagem de 1949, da revista O Cruzeiro, sobre o gurufim”, conta Simas.

“Existe uma tradição de que, quando você canta, faz festa e celebra, não está apenas homenageando o morto. Muitas vezes, está enganando a morte. Ela passa por ali, vê a festa e pensa que não estão velando ninguém.”

Velórios com gurufim

Bira Presidente

O velório de Bira Presidente, um dos fundadores do Fundo de Quintal e figura histórica do Cacique de Ramos, foi marcado por uma despedida à altura de sua trajetória no samba.

Integrantes dos dois grupos tomaram seus instrumentos e, em meio à dor, cantaram. A primeira música, “O show tem que continuar”, lançada em 1988, deu o tom da homenagem.

Em seguida, “A amizade” (2000) celebrou a vida do artista com gratidão. Fãs se juntaram ao coro, estendendo CDs e instrumentos indígenas em reverência.

Sérgio Cabral

Na sede náutica do Vasco, na Lagoa, Zona Sul do Rio, o corpo do jornalista e escritor Sérgio Cabral foi velado antes de seguir para o Cemitério Memorial do Carmo, no Caju.

Em 2024, ritmistas da Mangueira, escola que Cabral ajudou a eternizar em palavras e melodias, se posicionaram ao lado do caixão com surdo, tamborim e pandeiro.

Ao som de “Meninos da Mangueira”, composta por ele com Rildo Hora nos anos 1970, o clima de tristeza deu lugar a uma despedida festiva e emocionante.

Monarco

O adeus a Monarco, presidente de honra da Portela, aconteceu na quadra da escola, em Oswaldo Cruz, Zona Norte do Rio, em dezembro de 2021.

Ícones do samba como Paulinho da Viola, Marisa Monte e Diogo Nogueira estiveram presentes. Em meio ao luto, uma grande roda de samba tomou conta do espaço, com canções que celebraram o legado do artista e da Portela.

Beth Carvalho

Em 2019, a sede do Botafogo se transformou em uma verdadeira roda de samba para o velório de Beth Carvalho. Parentes, amigos e sambistas como Zeca Pagodinho se reuniram para homenagear a “Madrinha do Samba”.

Ao som de “Andanças” e outros clássicos, a despedida foi marcada por emoção e reconhecimento à artista que impulsionou gerações do samba.

Almir Guineto

Outro integrante do Fundo de Quintal e que também dominava o banjo, assim como Arlindo Cruz, Almir Guineto também teve um gurufim como despedida, em 2017. O velório foi na quadra do Salgueiro, sua escola de coração, antes do corpo ser levado para o Cemitério de Inhaúma.

Após a chegada de amigos como Zeca Pagodinho e Jorge Aragão e parentes, a Velha Guarda do Salgueiro deu início a uma roda de samba em homenagem ao compositor.

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