Qualquer brasileiro importunado diariamente com irritantes ligações telefônicas como as que alegam compras indevidas em seus cartões e pedem que clique em algum link obscuro para “resolver” o problema tem a sensação de que o país vive uma epidemia de golpes. Não é só sensação. Seguindo tendência mundial, o número de estelionatos no Brasil explodiu nos últimos anos.
Os registros no ano passado atingiram 2.166.552, um aumento de 8,3% em relação a 2023 (2.000.960) e de mais de 400% ante 2018, quando foram contabilizados 426.799 casos. A média nacional é de 1.019,2 por 100 mil, segundo a 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Esses golpes se materializam de diferentes formas, mas hoje acontecem sobretudo no meio digital. Apesar de estarem em franca expansão, esses crimes ainda são pouco investigados e raramente chegam à Justiça, o que traduz o despreparo das polícias para lidar com as novas estratégias dos bandidos.
Análise do Anuário com base em dados do Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, mostra que, em 2024, o Judiciário recebeu 51.793 novos casos, algo em torno de 2,4% dos estelionatos registrados nas delegacias. “O crime mudou muito nos últimos cinco anos, e talvez a forma de preveni-lo e enfrentá-lo também precise mudar, sem, no entanto, abrir mão de estratégias preventivas de policiamento”, afirma Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Está claro que os bandidos se adaptam aos novos cenários. É preciso que as polícias civis também se adaptem. Por envolver quadrilhas com atuação nacional, é necessária uma coordenação também nacional. Diferentemente do que ocorre em outras modalidades de crime, investigações de estelionatos demandam investimentos em inteligência. Se os bandidos operam no modo digital e a polícia no analógico, as chances de sucesso são reduzidas.