Na primeira parte deste artigo foi destacado que não sobra nada da renda para grande parte dos brasileiros e suas famílias. Que a primeira barreira é a renda insuficiente para metade dos brasileiros.
O salário mal cobre despesas básicas — moradia, alimentação, transporte, saúde. Não se trata de escolha ou má gestão. É matemática: quando a renda se esgota antes do fim do mês, não há o que guardar. A renda é concentrada, os salários da maioria dos brasileiros são baixos.
Pesquisas recentes (setembro de 2025) apontam uma renda média de aproximadamente R$ 3.400. O DIEESE calcula o salário mínimo necessário para suprir as despesas básica de uma família, e o valor de referência mais recente (agosto de 2025) para uma família de quatro pessoas foi de cerca de R$ 7.147,91.
Um valor significativamente maior que o salário mínimo oficial de R$ 1.518,00, mostrando a diferença entre o valor legal e o necessário para uma existência digna. Em tal circunstância fica difícil imaginar o hábito de poupar parte do salário ou da renda, realidade que contribui diretamente para que 72% dos brasileiros desconhecam produtos de investimento além da caderneta de poupança. Juros compostos, inflação, diversificação de ativos — conceitos básicos para qualquer investidor são mistérios para a maioria, conforme dados da Anbima.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Alguns críticos acusam que existe ausência de educação financeira muito grande tanto nas escolas quanto dentro de casa, e que famílias endividadas não transmitem bons exemplos. Escolas não ensinam o básico, por isso o resultado é uma geração após outra que não aprende administrar dinheiro.
A crítica não deixa de traduzir uma realidade em que predomina a cultura atrasada e falta de orientação em relação à maneira correta de administrar dinheiro. Porém, o aprendizado é fruto da vivência social. e não existindo renda suficiente para poupar para a imensa maioria, que mal obtém renda e salários para sobreviver, é fantasioso esperar que assalariados mal remunerados, ou trabalhadores informais com renda precária, adquiram o hábito de poupar e fazer investimentos no mercado financeiro.
CULTURA DO IMEDIATISMO
Há também uma dimensão comportamental. Pesquisa da Anbima de 2023 revela que 40% dos brasileiros preferem receber uma quantia menor hoje, mas usufruindo imediatamente de todo o dinheiro, a receber mais tendo de guardar uma parte e depois colher os juros no futuro — uma evidência de forte preferência pelo presente. Publicidade massiva, redes sociais criando pressão por status e facilidade do crédito alimentam essa cultura.
A gratificação adiada — essência da poupança — perde espaço para a satisfação instantânea. O padrão se repete entre gerações. Jovens adultos cresceram em ambiente de estímulos constantes e recompensas imediatas. Para esse público, poupar soa como renúncia, não como investimento em segurança.
A ideia de abrir mão do consumo presente para garantir o futuro encontra resistência cultural crescente.


