Uma fazenda de 66 mil hectares de terras com aptidão para lavoura e pecuária, com uma mansão como casa sede e pista de pouso asfaltada homologada para jatos está à venda por R$ 5,8 bilhões. A propriedade, fica em Nova Ubiratã, em Mato Grosso, e lidera o ranking das dez fazendas mais caras à venda no Brasil, segundo uma plataforma especializada em terras rurais. Todas têm preços na casa dos bilhões.
Entre as dez propriedades rurais mais caras listadas pela plataforma Chãozão (especializada nesses negócios) a pedido do Estadão, quatro estão em Mato Grosso – três são as primeiras do ranking (ver abaixo). O Estado é o celeiro de grãos do Brasil e algumas dessas fazendas bilionárias ficam no eixo da BR-163, conhecida como a rota da soja.
Para Geórgia Oliveira, CEO da Chãozão, a valorização das terras na região nos últimos cinco anos acompanhou a evolução do agronegócio. De 2019 a 2024, as terras com agricultura e pastagem no Brasil subiram, respectivamente, 113,3% e 116,3%, segundo pesquisa da Scot Consultoria. A inflação no período foi de 33,63%.
PROCURA EM MATO GROSSO
Foto: Inpasa/Divulgação

Agroindústria impulsionou. Fábrica de etanol de milho da Inpasa em Sinop (MT)
No caso de Mato Grosso, diz Geórgia, em função de sua vocação agrícola fortemente voltada à produção de grãos, se observou no último ano um aumento significativo na procura por terras, com destaque para o eixo da BR-163, que se consolidou como um dos corredores mais estratégicos do agronegócio brasileiro. Segundo a Chãozão, essa valorização das terras é resultado de uma combinação de fatores estruturais:
1. Alta rentabilidade das lavouras de grãos e fibras (soja, milho e algodão): a valorização internacional das commodities agrícolas aumentou a atratividade da região para investidores;
2. Crescente demanda global por alimentos: com o Brasil ocupando papel de destaque como fornecedor, o Mato Grosso lidera essa produção;
3. Avanços na infraestrutura logística e nos modais de escoamento: melhorias em rodovias, como a BR-163, ferrovias e portos que reduziram os custos e aumentaram a competitividade;
4. Entrada de fundos de investimento e capital estrangeiros: grupos nacionais e internacionais adquiriram grandes áreas no Estado, o que aqueceu ainda mais o mercado;
5. Adoção de tecnologias agrícolas de ponta: além de elevar a produtividade geral, tornou produtivas áreas que antes eram subutilizadas.
Para a especialista, esses fatores têm transformado o Mato Grosso – especialmente sua faixa central – em um dos territórios mais valorizados e promissores do País. “Hoje, temos mais de 700 imóveis rurais à venda em todo o Estado de Mato Grosso”, diz.
Foto: Nova Rota Oeste/Divulgação

Eixo da BR-163 se consolidou como um dos principais corredores do agronegócio brasileiro
Os negócios bilionários são tratados com grande discrição, mas alguns acabam sendo revelados. É o caso de duas fazendas adquiridas no ano passado pelo Grupo Bom Futuro pelo valor de aproximadamente R$ 2 bilhões. Ambas ficam em Mato Grosso, uma em Ipiranga do Norte, a outra em São José do Rio Claro, somando 43 mil hectares. São áreas propícias para o cultivo de soja, milho e algodão.
Os irmãos Maggi Scheffer, do Bom Futuro, são considerados os maiores produtores individuais de soja do mundo e, no Brasil, estão entre os maiores produtores também de milho e algodão. Com a aquisição, mediante pagamento à vista, o grupo passa a deter mais de 650 mil hectares de terras apenas em Mato Grosso.
PREÇOS RECORDES
A fazenda mais cara à venda na plataforma, em Nova Ubiratã, a 426 km de Cuiabá, tem 66 mil hectares com terras de dupla aptidão, segundo a Chãozão. Ou seja, servem tanto para agricultura quanto para pecuária. São terras já testadas em cultivos de algodão, soja, milho, com estrutura também para gado de corte e suinocultura. Nesta safra, foram cultivados 33 mil hectares de soja e 16 mil de algodão.
A segunda mais cara, oferecida por R$ 5 bilhões, fica em Paranatinga, a 375 km de Cuiabá, e tem pista de pouso e hangar. A área total é de 88 mil hectares, sendo 30 mil para lavouras e 18 mil de pastagens. A terceira em valor - R$ 4,5 bilhões - está em São Félix do Araguaia, na divisa com Tocantins. É uma propriedade extensa, com 121 mil hectares.
Devido a contratos de confidencialidade, a plataforma não revela os nomes dos proprietários das terras.
Por José Maria Tomazela – publicação Estadão