Na última sexta-feira (25/07), os portais voltados para notícias sobre as Forças Armadas amanheceram coalhados do mesmo recado: “os militares vão prosseguir com as operações com militares estadunidenses, com os intercâmbios e a aquisição de armamentos fornecidos pelos EUA, e repudiam qualquer troca por tecnologias russas ou chinesas”. São tecnologias melhores? São Piores? São dados que parecem não importar para os comandos. O que parece importar, isto sim, é a ideologia dos países de onde vêm.
Alguém precisa dizer a esses senhores, que não há nenhuma exigência para que parem ou prossigam com as manobras A ou B. O que se espera é que entendam que o mundo mudou. Guerras não se fazem mais com tiros e apenas troca de mísseis. Há sofisticação no confronto entre os países. Por exemplo, pode-se sufocar um Estado com sanções econômicas ou tarifaços. Porém, os comandos parecem ainda não terem se dado conta de que estamos sendo atacados, e a parafernália que eles tanto prezam, não têm espaço nessa luta.
Um comportamento esperado por parte deles, seria, por exemplo, que ficassem, no mínimo, em compasso de espera, adiassem “manobras” ou “operações” em conjunto com militares dos EUA, até que o comandante em chefe, deles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no momento o ocupante do cargo máximo da Nação, abrisse diálogo com o governo que nos ataca e ameaça, para tomar qualquer atitude ou providência com relação a esse intercâmbio. Isto, se estivéssemos falando de comandos conscientes do dever cívico de prezar pela soberania, e não movidos apenas pelas suas antigas ideologias. Eles, sim, agindo com base em uma orientação ultrapassada no desenho geopolítico atual.
O site “Sociedade Militar”, veio com a seguinte manchete: “Forças Armadas reforçam laços com EUA enquanto China e Rússia intensificam assédio e disputam espaço no mercado militar”. Espalhafatosa, para dizer o mínimo, seguida da chamada:
“Acordos de defesa, exercícios conjuntos e negociações bilionárias seguem ativos apesar da tensão entre Brasília e Washington, enquanto chineses e russos intensificam contatos com militares brasileiros para vender equipamentos e fechar contratos estratégicos”.
Já no corpo da matéria, esmiuçam as “vantagens” de dar continuidade a todos os programas com os Estados Unidos, com quem o Brasil negocia e se relaciona há 200 anos. De onde tiraram que – por enquanto -, algo vai mudar?
Nos últimos meses, o Exército brasileiro já encomendou 12 helicópteros Black Hawk, avaliados em US$ 451 milhões, e 222 mísseis Javelin, estimados em US$ 74 milhões, por meio do programa Foreign Military Sales (FMS), do Departamento de Estado dos EUA. Os contratos, firmados diretamente entre governos, ficam isentos de tarifas, o que os torna estratégicos para as forças brasileiras.
Um dos exemplos mais contundentes veio do site “Militarizando”. Num discurso que beira ao usado no período da guerra fria, dispararam: “Diante das tensões nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, as Forças Armadas brasileiras manifestam preocupação com o futuro da parceria estratégica. Oficialmente, as Forças Armadas comunicam ao governo que manterão sua política de aliança com os Estados Unidos, desvinculando-se das orientações ideológicas e priorizando a continuidade da parceria com os Estados Unidos, mesmo diante de eventuais divergências”.
A “rebeldia” soa fora de hora e precipitada, quando questões muito além dessas estão em jogo.