O preocupante problema do aquecimento e calor extremo, cada vez mais insuportável, que Aflige a população da Grande Cuiabá, continua sendo tratado com descaso pelos governantes.
Os gestores continuam agindo como se nada tenham a ver com o problema do aquecimento excessivo, que afeta o conglomerado urbano formado por Cuiabá e vizinha cidade de Várzea Grande, em via de atingir um quadro de caos climático que inviabilizaria a permanência da população num futuro próximo, conforme a previsão de especialistas com base em dados meteorológicos.
As previsões sobre a elevação do calor vêm se confirmando, ano após ano, e a Grande Cuiabá caminha a passos largos rumo a uma tragédia anunciada: repetição da história de muitas cidades que se tornaram inabitáveis em consequência de catástrofes climáticas.
Em seminário sobre a mudança climática promovido pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), realizado a cerca de três meses - em outubro de 2024 - a especialista em clima, Ana Paula Paes, fez uma exposição de dados demonstrando que a temperatura em Mato Grosso e na Grande Cuiabá vem apresentando ondas de calor cada vez mais extremas. A pesquisadora, que conta com especialização em nível de doutorado e pós-doutorado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), explanou que as temperaturas na Grande Cuiabá e no estado podem chegar a 50 graus entre 2030 e 2050.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registram que a partir da década de 1970 a temperatura média se elevou em relação ao clima mais ameno anteriormente verificado em Cuiabá e Várzea Grande. Em 1999 e 1990 atingiu a média de 32,3 graus Celsius anual, impactada pelo aumento populacional que impulsionou o crescimento urbano responsável pelo desencadeamento de profundas mudanças na estrutura urbana e no clima. Em 1970 Várzea Grande contava com uma população de 18.036 e Cuiabá 103.427 de acordo com censo do IBGE, portanto 121.463 habitantes, ao passo que segundo o último censo populacional juntas ambas as cidades contam com 995.504 habitantes.
Em 6 de outubro último o Inmet divulgou que a Grande Cuiabá registrou 44,1 graus Celsius, a segunda maior temperatura já registrada em 113 anos, confirmando a previsão de aumento progressivo do calor. Aumento resultante do acúmulo da concentração de asfalto e concreto, que absorvem mais calor e poluição. Situação agravada pela queima de combustíveis processada por uma frota de 716.860 veículos, concentrada em Cuiabá e Várzea Grande (Detran Net dados processados em 1º/12/2024).
Somado a esses fatores adversos, a Coordenadoria de Geoinformação e Monitoramento Ambiental da Sema-MT, através dos Dados da Dinâmica de Desmatamento Por Município, divulgou que em 45,37% dos 324.419,90 hectares do território de Cuiabá – assim sendo, em quase a metade - a vegetação foi destruída, reduzindo a ventilação, piorando a qualidade do ar e contribuindo diretamente para o aumento do calor.
Não bastasse, geograficamente Cuiabá é situada a 165 metros de altitude do nível do mar, numa “depressão” a 644 metros abaixo do nível da vizinha cidade de Chapada dos Guimarães, que se localiza a 811 metros de altitude. Em razão da localização na depressão a circulação de vento é escassa, o que influencia na falta de ventilação e situação de abafamento, situação agravada pelo aquecimento global e efeitos do fenômeno El Niño.
Não tem sido presenciado a questão climática entre as preocupações dos governantes que ocupam o poder no estado, e prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande. Isso num contexto que a situação alarmante não permite mais iniciativas aleatórias e soluções paliativas, porque se encontra em jogo séculos de trabalho de várias gerações para construir um conglomerado urbano que abriga quase um milhão de vidas, e concentra um patrimônio material e imaterial inestimável.
A grave situação requer urgentemente um diagnóstico atualizado e a definição de providências inadiáveis para evitar que o pior aconteça. Um levantamento metódico, que aponte a demanda financeira e fontes dos recursos, estabelecendo as responsabilidades e contrapartidas dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande, estado e governo federal, caminho que resta para evitar o caos.
Edivaldo oliveira Alves 29/12/2024
Acredito que o Agronegócio também tem contribuição com intenso desmatamento. Como Guia de Turismo presenciei inúmeros turistas sentirem mau com o calor aqui.
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