Durante entrevista ao programa Bom Dia 247, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, fez um alerta incisivo ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à esquerda brasileira. Para ele, diante do avanço do que considera um projeto neoliberal de desmonte do Estado, o presidente da República deve abandonar a estratégia de conciliação e buscar o apoio direto das ruas. “A gente deve recorrer às ruas e não prioritariamente ao Supremo. Recorrer às ruas, fazer o debate político, mostrar quem é quem”, afirmou Genoino.
O dirigente histórico do PT criticou duramente a atuação da elite econômica brasileira e apontou para o risco de uma “catástrofe” social caso não haja enfrentamento claro ao modelo em curso. “Essa elite financeira monopolista nunca quer pagar imposto”, declarou, citando as recomendações recentes do Banco Mundial para o Brasil, que incluem a desvinculação dos gastos obrigatórios com saúde, educação e previdência, além de reformas administrativas e fiscais que, segundo ele, aprofundariam a exclusão social.
Para Genoino, o governo enfrenta uma ofensiva orquestrada que visa desidratar sua capacidade de ação, enfraquecendo sua base política e preparando o terreno para uma alternativa de extrema direita “sem as extravagâncias de Bolsonaro, mas com o mesmo conteúdo neoliberal e autoritário”. Nesse cenário, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é visto como o nome mais promissor desse campo político: “O que o Tarcísio quer é privatizar o que resta”, alertou.
O ex-deputado federal sustenta que a governabilidade do campo progressista está em xeque. Segundo ele, é necessário que o PT se reposicione, com mais autonomia frente ao governo e capacidade de articulação com movimentos sociais e partidos de esquerda. “Está faltando combatividade, está faltando sangue nos olhos. Se ficar só no parlamento, não dá. Tem que fazer disputa dentro e fora do Congresso”, enfatizou.
ERRO RECORRER EXCLUSIVAMENTE AO STF
Genoino também apontou para as limitações do atual modelo de governabilidade, centrado na chamada frente ampla. Para ele, o presidencialismo brasileiro está sendo deformado por práticas como as emendas impositivas, que reduzem o papel do Executivo. “Eles estão querendo tirar o poder do presidente da República. Isso é uma excrescência. O povo vota esperando mudança, e o orçamento está sendo pulverizado com emendas para fazendas e condomínios”, criticou.
Ele ainda classificou como erro estratégico recorrer exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal para barrar derrotas políticas no Congresso. “Essa ideia de tudo a gente vai para o Supremo cria uma dependência muito grande. O Lula deve fazer um pronunciamento à nação, claro, e reunir os partidos da base para adotar uma tática de resistência ativa”, defendeu. Para Genoino, o presidente precisa usar sua capacidade de comunicação com o povo de forma mais assertiva: “O Lula é bom de diálogo, mas agora precisa ser bom de enfrentamento”.
Genoino concluiu sua intervenção fazendo um apelo à esquerda para que retome sua capacidade de encantamento e mobilização popular. “Sem esperança e sem encanto, a gente fica entregue ao pessimismo, ao individualismo e à depressão. Nós temos que ligar o motor da urgência política”, disse.