O excesso de politização das igrejas evangélicas brasileiras – uma das hipóteses levantadas por especialistas para o crescimento abaixo do esperado do segmento pelo Censo em junho - ganha novas evidências a partir da divulgação da segunda edição do livro ‘A cabeça do brasileiro’, do cientista político Alberto Carlos Almeida.
Baseado em uma pesquisa com 1.602 pessoas pelo país, o levantamento traz números que apontam para a maior propensão de pastores e lideranças religiosas usarem espaços e eventos religiosos para disseminar ideias políticas e pedir votos do que os padres católicos.
Em junho, o IBGE informou que 26,9% da população é formada por evangélicos, enquanto vários institutos de pesquisa do país já estipulavam o número de fiéis acima de 30%.
Foram três as perguntas feitas para tratar da mistura política e religião. Com relação a falar de política durante a missa ou culto, metade dos evangélicos pentecostais e não pentecostais disse que essa prática já havia acontecido enquanto esse número foi menor, de 38% entre católicos praticantes, e 27% entre os não-praticantes.
Não pentecostais são os fiéis de igrejas históricas como a Batista, a Presbiteriana e a Luterana. Pentecostais são aqueles que frequentam denominações como a Assembleia de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus.
Sobre pedir voto para um candidato, 41% dos pentecostais e 27% dos não pentecostais admitiram ter presenciado o método, comparado a apenas 15% dos católicos praticantes, e 17% dos não praticantes. Quando o assunto foi apresentar o candidato durante cerimônia religiosa, mais diferenças. Um terço dos evangélicos em geral disse que isso já havia acontecido em cultos, contra 17% dos católicos praticantes e 13% dos não praticantes.
A pesquisa de Almeida não perguntou se a politização dos cultos incomoda os fiéis, mas detectou depois, em outra sondagem telefônica com 2 mil pessoas, que vem ocorrendo, de fato, um movimento consistente — e recente — de troca-troca nas igrejas brasileiras. Nos últimos dez anos, 35% dos entrevistados deixaram de ser católicos, número previsível diante dos censos das últimas décadas. O que surpreende é o volume de pentecostais (16%) e não pentecostais (8%) que trocaram de denominação — a despeito do crescimento do segmento desde os anos 90.
Os dados revelaram que esses fiéis não se juntaram ao catolicismo, mas migraram entre as próprias igrejas pentecostais e não pentecostais ou simplesmente deixaram de se identificar com qualquer afiliação religiosa. Ou seja, podem ter entrado na categoria que convencionou-se chamar de ‘desigrejado’ (evangélicos sem vínculo com uma estrutura tradicional) ou ‘sem religião’ (quem tem crença em Deus, mas não se identifica com nenhuma religião específica).