Em entrevista ao Boa Noite 247, o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, afirmou que o chamado tarifaço imposto pelos Estados Unidos, apesar de representar um desafio imediato, acelerou a busca do país por novos parceiros comerciais e abriu portas para mercados estratégicos.
“O tarifaço abriu muitos novos mercados para o Brasil”, declarou Viana, ao explicar que a medida americana tem caráter político e não meramente econômico. Segundo ele, o governo brasileiro vinha, desde o início da atual gestão, ampliando a presença internacional, o que reduziu os impactos da decisão de Washington.
DIVERSIFICAÇÃO COMO RESPOSTA ÀS TARIFAS
De acordo com Jorge Viana, a Apex já havia organizado 16 encontros empresariais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em diferentes continentes, além de outros quatro com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Essas iniciativas, afirmou, resultaram na abertura de mais de 400 mercados para produtos brasileiros antes mesmo da imposição das tarifas.
“Nós já estávamos no mundo, já estávamos retomando força”, disse Viana. Ele destacou que essa estratégia permitiu ao Brasil reagir de forma estruturada ao bloqueio comercial americano: “Estamos trabalhando um plano de diversificar mercado para as empresas que tinham um grau elevado de dependência do mercado americano”.
NOVOS PARCEIROS ESTRATÉGICOS
Além de buscar diálogo com setores empresariais americanos que também serão afetados pelas tarifas, o Brasil intensifica missões comerciais na Índia, Indonésia, Nigéria e países do Mercosul. Viana lembrou que a Índia, por exemplo, registrou crescimento de 58% nas trocas comerciais com o Brasil em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
“Nunca tínhamos alcançado o que conseguimos agora no acordo Mercosul-União Europeia”, ressaltou, ao citar que o tratado avançou para a etapa final de aprovação no Conselho da União Europeia. Para ele, o cenário internacional, ainda que desafiador, favorece a ampliação das exportações brasileiras em setores de maior valor agregado.
SUPERÁVIT DE US$ 6,1 BILHÕES NA BALANÇA COMERCIAL EM AGOSTO
A balança comercial brasileira fechou agosto com superávit de US$ 6,133 bilhões, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O resultado representa um salto de 35,8% em relação ao mesmo mês de 2024, quando o saldo havia sido de US$ 4,5 bilhões, segundo noticiou a Reuters.
O desempenho positivo ocorreu mesmo após o início da cobrança de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, em vigor desde 6 de agosto. As vendas ao mercado norte-americano encolheram 18,5% na comparação com agosto do ano passado.
CHINA COMPENSA RETRAÇÃO DOS EUA
Na direção contrária, a China reforçou ainda mais sua posição como principal destino das exportações brasileiras. As vendas para o país asiático — em cálculo que inclui Hong Kong e Macau — cresceram 29,9% no mês, ampliando sua fatia no comércio exterior do Brasil para 32,1%, contra 25,7% em agosto do ano passado.