O procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao fazer a leitura das acusações no julgamento dos réus no Supremo Tribunal Federal (STF), na manhã desta última terça-feira (2/9), foi implacável no desnudamento e na caracterização da trama golpista, do início, meio e fim, e na identificação de Jair Bolsonaro como “líder” da organização criminosa que conspirou abertamente contra a democracia no país.
Em trecho da sua intervenção Paulo Gonet citou os principais fatos que demonstram que Bolsonaro teve papel central na articulação da tentativa de golpe.
Veja a fala do Procurador Geral da República e depois vídeo:
“O Presidente da República, comandante maior das Forças Armadas, reuniu os comandantes militares das três forças para dar-lhes a conhecer seus planos, Logo mais o Ministro de Estado de Defesa, ele mesmo, convocou os comandantes militares para revelar-lhes a estratégia a ser adotada.
Repare-se bem, que a reunião não se deu para os comandantes tivessem ciência do grave ato a fim de que a ele recusassem energicamente. Não, foram convocados para aderirem ao movimento golpista estruturado.
Foram, então, expostos a minutas e decretos que estatuíam providências estapafúrdias para a normalidade constitucional a serem tomadas em detrimento das competências do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal Eleitoral (STE), e do processo sucessório do Executivo. Basicamente, se fala que o então Presidente da República prosseguiria à frente do governo do país, e assim impediria a posse e o exercício do cargo pelo candidato que a população escolheu.
O comandante da Marinha chegou a assentir ao convite para intervenção no processo constitucional da sucessão do Executivo.
Não é preciso esforços intelectuais extraordinários para reconhecer que quando o Presidente da República, e depois o ministro da Defesa, convocam a cúpula militar para apresentar documentos de formalização de golpe de Estado, o processo criminoso já está em curso.
Não se está, nesse caso, num ambiente relativamente inofensivo de conversas entre quem não dispõe de meios para operar a puxe [instigar, incitar o golpe no sentido figurado).
Quando o Presidente da República e o ministro da Defesa se reúnem com os comandantes militares sob suas direção política e hierarquia para concitá-los a executar fases finais do golpe, o golpe, ele mesmo, já está em curso de realização”.