Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo nesta quinta-feira (30), lideranças de cinco siglas com representação na Esplanada — PP, União Brasil, PSD, MDB e Republicanos — vêm aumentando a pressão sobre o Planalto, demonstrando apoio crescente a um projeto político alternativo para 2026, com viés de centro-direita.
O movimento, que já se traduz em sucessivas derrotas da agenda do governo no Congresso, é impulsionado por discursos públicos em defesa da devolução dos ministérios ocupados. Juntas, essas siglas indicaram titulares para 11 pastas. Em entrevista ao Globo, o vice-presidente do União Brasil e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, afirmou com clareza: “Não faz sentido o partido ocupar cargos porque não estará com Lula em 2026”.
A crise também é visível no campo legislativo. Na semana passada, parlamentares desses partidos deram apoio à instalação de uma CPI para investigar irregularidades nos descontos em aposentadorias pagos pelo INSS, medida considerada prejudicial à imagem do governo. Além disso, houve forte resistência à proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), inclusive por parte de deputados da base, como Pedro Lucas Fernandes (União-MA), líder do partido na Câmara.
Outro episódio revelador da erosão da aliança foi a votação que suspendeu a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado por participação na tentativa de golpe de Estado. Partidos da base contribuíram com 63% dos votos favoráveis à suspensão do processo. Da mesma forma, 143 deputados de legendas com ministérios assinaram pedido de urgência para o projeto que anistia os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
A aproximação de lideranças partidárias com o bolsonarismo tem sido explícita. Ciro Nogueira (PP), Antônio Rueda (União) e Gilberto Kassab (PSD) participaram recentemente da filiação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ao PP — evento que contou com a presença de Jair Bolsonaro e do governador paulista, Tarcísio de Freitas. “Com certeza, esse encontro sinaliza a disposição das siglas de estarem juntas em 2026”, avaliou Nogueira.
Lideranças do Republicanos também adotam o mesmo tom. O deputado Lafayette Andrada (MG) disse que “cerca de 90% dos deputados foram com o Bolsonaro (em 2022)” e minimizou a escolha de Silvio Costa Filho para o Ministério dos Portos e Aeroportos, afirmando que “foi muito mais um agradecimento a ele, Silvio, do que ao partido”. Marcos Pereira, presidente da legenda, declarou que o Republicanos “estará em um campo de centro-direita em 2026”.
No PSD, o afastamento é evidenciado pelo comportamento de parte da bancada e pelas movimentações de Kassab, atual secretário de Governo de Tarcísio. Embora já tenha sido próximo de Lula, Kassab hoje mantém diálogo com Bolsonaro e tem feito análises pessimistas sobre o governo. Segundo o deputado Ismael dos Santos (PSD-SC), “dos três ministérios do PSD, só um funciona. Energia, para nós, no Parlamento, tem pouca validade”.
O MDB ainda hesita em fechar posição, mas figuras importantes da sigla, como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, já defenderam publicamente o retorno de Bolsonaro à elegibilidade. O ex-presidente Michel Temer, por sua vez, tem procurado articular uma aliança entre governadores de diferentes partidos, com foco em um programa comum para 2026. “Não estou preocupado com pessoas, me preocupo com a falta de projeto, com a falta de programa”, afirmou Temer ao jornal.
Entre os nomes que se movimentam para disputar o Planalto, destacam-se os governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS). A possibilidade de uma frente de centro-direita amplia o isolamento do governo no Congresso, que segue negociando apoio a cada projeto, mas sem consolidar uma base coesa.