Quando era evidente o gozo das forças neoliberais, clientelistas e de extrema-direita contrárias ao governo Lula, com a derrota na Câmara do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo Executivo, eis que a situação difícil permitiu a revelação de um caminho, uma verdadeira clareira, que desatou enormes energias políticas, num arco que mostra novas perspectivas para o presente da governabilidade.
Na verdade, o que aconteceu na semana que passou, com a intensa mobilização no mundo virtual em favor da taxação dos super-ricos, foi uma antecipação. Tocada pela rejeição ao IOF, a opinião pública consagrou a união do passado ao futuro. No centro estão anseios por mais igualdade social.
Pela primeira vez, porém, essa mensagem espalhou-se como um rastilho avassalador na principal arena da disputa política, o mundo virtual. A maioria imensa dos parlamentares optara por atacar a Constituição para se render à ordem iníqua das oligarquias, e enfrentam o escárnio popular nas redes sociais.
Os super-ricos não pagam nada. Já aqueles que trabalham são descontados em 27,5% dos seus ganhos. Os trabalhadores são sacrificados pelo injusto sistema tributário. Os impostos premiam o ócio, duplicando assim a lógica do sistema que expropria os trabalhadores do valor do que produzem.
A isenção aos super-ricos está no âmago do mecanismo de produção de injustiças contra os eternamente esquecidos. Estes são os que de fato suam a camisa em meio a um oceano de esforços para escapar, pelo trabalho, da condição desigual que herdaram.
A apropriação exercida pelo sistema em favor dos ricos tem amplo apoio da maioria conservadora do Congresso e da mídia corporativa.
A extrema-direita conservadora tinha, como se sabia, amplo predomínio do território virtual. Agora, essa realidade mudou. Memes e vídeos contra o arrocho aos pobres tomaram conta do ambiente.
Além da própria taxação dos super-ricos, aguardam exame a reforma tributária, o orçamento com garantia da manutenção das vinculações para saúde e educação, o controle das emendas parlamentares e o fim das desonerações fiscais que garroteiam a arrecadação e a gestão pública.