Após semanas de tensão política em torno da crise provocada pela taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo Lula e o Centrão se unem para reagir ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A ameaça de retaliações comerciais a partir de 1º de agosto realinhou posições no Congresso e provocou o isolamento de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistem em vincular a retirada das sanções à aprovação de uma anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Após meses de atritos, diante do impacto do tarifaço americano e da reação nacional, o embate deu lugar a um discurso de defesa da soberania nacional, informa O Globo.
A leitura predominante no Congresso é que a ofensiva de Trump enfraquece o discurso dos aliados de Bolsonaro e empurra o centro político para um campo de unidade nacional. Ainda assim, líderes do PP, MDB, União Brasil e PSDB avaliam que esse alinhamento é circunstancial e tende a se desmanchar com o arrefecimento da crise.
Mesmo entre os pragmáticos do Centrão, o discurso bolsonarista tem gerado desconforto. O líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), foi direto:
“O que me chama atenção é essa capacidade de entreguismo do bolsonarismo. Eles colocam o boné [do Trump] e, ao mesmo tempo, se enrolam na bandeira do Brasil. É a definição de oportunismo. Houve esse alinhamento do governo com o centro, sim. Houve um sentimento de unidade. Quem tem sentimento de patriotismo tem que se unir. Eu acho que isso vai reacender essa unidade em defesa do Brasil.”
Apesar das incertezas, líderes políticos avaliam que a crise com os EUA pode marcar o início de um esvaziamento do capital político de Bolsonaro e seus aliados, com efeitos sobre a corrida presidencial de 2026. Como observou um dirigente do União Brasil, “a política muda rápido, mas ninguém vence defendendo outro país contra o seu”.