A discussão sobre a redução de penas como alternativa à anistia acentuou divisões internas no PL. Enquanto uma ala mais próxima ao Centrão tenta convencer Jair Bolsonaro a aceitar a opção negociada, o ex-presidente e seus familiares vêm reiterando que não autorizam o diálogo por um “meio-termo”.
Integrantes do partido mais flexíveis defendem alterar o Código Penal para reduzir as penas dos crimes cometidos por Bolsonaro. Isso poderia resultar, na visão deles, em punição entre quatro e oito anos de prisão. O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses pela trama golpista. Com a redução, aliados também veem mais chance de cumprimento de prisão domiciliar, sem o risco de ficar encarcerado na Penitenciária da Papuda, uma das preocupações do ex-presidente.
Interlocutores próximos aos filhos de Bolsonaro, os parlamentares Eduardo e Flávio, reforçam que para eles, a insistência em soluções alternativas mina a estratégia de denunciar uma suposta “perseguição política”.
No grupo mais alinhado a Eduardo, a avaliação é que a movimentação do partido em torno da redução soa como traição. O ex-ministro Fabio Wajngarten, braço direito do ex-presidente, tem repetido que tais conversas “acontecem sem autorização do Bolsonaro” e chamou de “malucos” os que insistem nesse tipo de articulação.
PRESIDENTE DO PL TENTA CONVENCER BOLSONARO
Com o avanço das tratativas, o sentimento de bolsonaristas fiéis é de irritação com setores do partido que circulam com propostas pragmáticas no Congresso. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é citado pelo núcleo duro como a principal peça de um jogo duplo. Na quarta-feira, esteve com Bolsonaro e teria tentado convencê-lo a aceitar o projeto de dosimetria. Há meses, Valdemar vem desagradando integrantes da legenda por sua postura tida como “pouco incisiva”.
Filiados ligados a Eduardo vêm fazendo queixas frequentes, e o filho do ex-presidente abriu fogo contra o dirigente, inclusive ameaçando deixar o partido. O deputado tem repetido que é candidato à Presidência, caso seu pai permaneça inelegível, e tem acusado Valdemar de “conluio” com Centrão, por supostamente estar dando anuência ao movimento dos governadores da direita, em especial Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo.
Em entrevista ao Globo, Valdemar disse que o caminho negociado acelera o desfecho do caso: “Redução de penas não é o melhor caminho. Anistia é anistia. Redução de pena é só mudar a lei penal. Se tiver acordo, aprovamos em dois dias”, afirmou.