Na corrida de especulações sobre quem deve ser o próximo papa, alguns vaticanistas acreditam que, após um pontificado mais conservador como o de Bento 16 e mais progressista como o de Francisco, a Igreja Católica busque um nome moderado, que represente continuidade.
Se a suposição se confirmar, é provável que o próximo líder do Vaticano seja o atual secretário de Estado da Santa Sé, o italiano Pietro Parolin –um diplomata conhecido por não se comprometer com as posições mais polêmicas da Igreja hoje, mas aberto a continuar o caminho de reformas iniciado por Francisco.
Graças à sua posição na hierarquia da Santa Sé –o cargo de secretário de Estado, que Parolin ocupa há mais de dez anos, o torna a pessoa mais importante no Vaticano, atrás apenas do papa– e à sua cooperação com Francisco, o cardeal é visto como o sucessor natural de Bergoglio. No círculo de apostas sobre o novo pontífice, ele tem aparecido no topo.
DESCONFIANÇA DOS CONSERVADORES
Mas o nome de Parolin, 70, não é unanimidade. Além de ser visto por conservadores e progressistas com desconfiança por suas falas ambíguas sobre a aceitação a casais LGBTQIA+, divorciados e o futuro do celibato, seus críticos apontam o fato de que o cardeal não tem experiência pastoral –isto é, nunca chefiou uma paróquia ou trabalhou em contato direto com fiéis.
Com efeito, o caminho de Parolin até atingir a alta hierarquia da Igreja mais se assemelha ao de um servidor público de carreira do que de um religioso. Mas talvez o impacto mais duradouro e controverso de Parolin no cargo, e que pode dificultar suas chances de se tornar papa, tenha sido o chamado "acordo secreto" entre o Vaticano e a China, do qual o cardeal italiano foi o principal arquiteto.
Chamado assim porque seu teor nunca foi divulgado, o pacto foi assinado em 2018 com o objetivo de pôr fim às prisões arbitrárias de padres católicos na China. Em troca, acredita-se que a Santa Sé tenha se comprometido a nomear bispos para as dioceses chinesas selecionando-os a partir de uma lista elaborada pelo Partido Comunista.
COMANDO DO CLOCLAVE
Além de ser o favorito a suceder Bergoglio, Parolin vai comandar o conclave. Pela regra, é o decano do Colégio Cardinalício quem prepara a eleição depois que um papa morre ou renuncia. Cabe a ele convocar os cardeais a Roma e presidir as reuniões preparatórias para o voto. Desde 2020, o cargo é ocupado por Giovanni Battista Re, 91.
Por causa da idade, porém, o decano não poderá entrar na Capela Sistina, onde só são permitidos os cardeais com direito a voto –ou seja, com menos de 80 anos. O caso é o mesmo do vice-decano, Leonardo Sandri, 81.
Dentro da Sistina, a tarefa deverá caber a Parolin, por ser o cardeal-bispo de nomeação mais antiga entre os eleitores, em 2018 –como cardeal, ele foi proclamado por Francisco em 2014, ainda no início de seu papado.