O Brasil viveu, entre 2017 e 2023, uma intensificação inédita da concentração de renda, especialmente entre os brasileiros super-ricos. Segundo estudo publicado no site FiscalData, com base nas declarações de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), o grupo dos 0,1% mais ricos — cerca de 160 mil pessoas — capturou 85% do crescimento da renda no período.
A análise técnica elaborada pelos pesquisadores e economistas Sérgio Wulff Gobetti, Priscila Kaiser Monteiro e Frederico Nascimento Dutra mostra que a renda média da população adulta brasileira cresceu 1,4% ao ano acima da inflação. Já os super-ricos tiveram ganhos muito acima disso:
· Top 1% (1,6 milhão de pessoas): crescimento anual de 4,4%.
· Top 0,1%: alta de 6,9% por ano.
· Top 0,01%: avanço de 7,9% ao ano — mais que o crescimento médio da economia chinesa no mesmo período.
Essa aceleração nos ganhos do topo da pirâmide elevou a parcela da renda apropriada pelo 1% mais rico de 20,4% para 24,3%, um recorde na série histórica da Receita Federal (iniciada em 2006). O 0,1% mais rico, por sua vez, passou a deter 12,5% da renda, mais do que os 50% mais pobres, que dividiram apenas 10% do total.
POBREZA EM QUEDA, MAS DESIGUALDADE ESTRUTURAL PERSISTE
De fato, os dados da Pnad indicam que a pobreza extrema caiu, especialmente com a retomada do Bolsa Família e o fortalecimento do mercado de trabalho.
Segundo estimativas da FGV Social, 6 milhões de pessoas deixaram a extrema pobreza entre 2023 e 2024. No entanto, esse avanço na base não neutraliza o agravamento da concentração de renda no topo.
A desigualdade, medida no agregado, permanece elevada e estrutural. A ascensão da renda dos mais pobres não foi suficiente para conter o efeito da expansão vertiginosa dos lucros entre os muito ricos.