O Vaticano se financia única e exclusivamente por doações e compras de seus seguidores; uma vez que não recolhe impostos, e mesmo se o fizesse sua população de pouco mais de 800 moradores não sustentaria tanta coisa. Por isso a Santa Sé depende de dízimos, ofertas e receita dos itens litúrgicos e museus.
No território central do catolicismo, murado dentro de Roma, são mais volumosos os montantes advindos do “óbolo de são Pedro” - uma coleta anual que envolve todas as dioceses do mundo - e, geralmente em junho, convoca os fiéis a apoiar as obras de caridade do papa e, claro, o funcionamento da Igreja.
É nesta segunda categoria que reside um dos maiores desafios que Leão 14 enfrentará. Em 2023, por exemplo, as doações do óbolos de são Pedro, arrecadaram algo próximo de € 103 milhões. Destes, € 13 milhões foram destinados diretamente à caridade. Os outros € 90 milhões foram usados em despesas burocráticas da Santa Sé.
O Vaticano é um grande negócio em termos financeiros, mas também imobiliários. Segundo os dados mais recentes, a Igreja tem, somente nos arredores italianos da sede, algo em torno de 4.000 imóveis; ao levar em conta toda a Europa, o número é próximo dos 5.000 —destes, cerca de 20% geram receita principalmente com aluguéis.
Também em 2023, de quando são os relatórios mais atualizados, a Cúria fechou o ano com um déficit operacional na casa dos € 83 milhões. É também para cobrir esse buraco que o óbolo de são Pedro tem sido usado.
É importante delimitar algo crucial: as dioceses espalhadas pelo mundo são financeiramente independentes do Vaticano e têm uma gestão descentralizada. Na prática, isso significa dizer que as autoridades católicas de cada país - ou respectivas sub-regiões - gerem os próprios recursos.
Com esse pano de fundo, é difícil estabelecer a riqueza total sob o guarda-chuva do catolicismo apostólico romano. Somente na tutela de sua repartição central, no entanto, o valor é estimado em US$ 5 bilhões – R$ 28,25 bilhões pelo câmbio atual de R$ 5,65 o dólar - sem considerar valores imensuráveis das grandes basílicas e de suas obras de arte, como "A Criação de Adão", de Michelangelo, e "A Última Ceia", de Da Vinci.
Os números são, hoje, públicos devido especialmente à intensa reforma promovida por Francisco que, entre outras decisões, determinou a publicação de relatórios financeiros mais transparentes.
As mudanças, por outro lado, não foram simbólicas: o atual presidente da APSA (Administração do Patrimônio da Sé Apostólica), o arcebispo Giordano Piccinotti, agora é responsável tanto pela gestão dos ativos financeiros - que, por determinação de Francisco, devem ser investidos e apresentar rendimento, mas sem caráter especulativo - quanto imobiliários. Nestes campos, em 2023, a APSA apresentou um lucro de € 45,9 milhões —destes, € 37,9 milhões foram destinados à Cúria Romana, a missão do papa.
Na conta geral ainda falta equilibrar o principal problema: o alto número de funcionários e ainda mais alto gasto com pensões. São cerca de 4.000 pessoas que trabalham para os órgãos do Vaticano e, entre esses, cerca de 2.000 são só na Cúria Romana —número três vezes maior que todos os funcionários dos museus da cidade-estado, por exemplo.
Leão 14, precisará diminuir o custo de funcionamento da Santa Sé, suprir a necessidade do pagamento de pensões e, acima de tudo, honrar as doações enviadas com destino à caridade.