O levantamento mais recente sobre o tema — feito pelo Datafolha e divulgado no mês passado — mostra que a maioria dos eleitores (55%) é contra anistiar envolvidos nos atos golpistas. Apesar dessa ser a posição de mais da metade dos brasileiros, o índice de rejeição à proposta já havia alcançado a máxima de 63% em março do ano passado, mas recuou a partir do mês seguinte, após o início do julgamento da cabeleira Débora Rodrigues dos Santos, conhecida por pichar a escultura “A Justiça”, localizada em frente ao prédio do STF.
Ela foi condenada a 14 anos de prisão em abril por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. O caso tem sido usado por bolsonaristas para criticar a extensão das penas daqueles que participaram das depredações das sedes dos Três Poderes.
Apesar da campanha, a maioria dos brasileiros defende as penas aplicadas aos condenados pelo 8 de Janeiro ou diz que as punições deveriam ser ainda maiores — ainda segundo o Datafolha, os dois grupos somam, respectivamente, 34% e 25%. Já 36% acreditavam na última pesquisa que elas deveriam ser menores.
No mesmo período, um levantamento feito da Genial/Quaest mostrou que 56% dos entrevistados defendiam que os envolvidos nas invasões antidemocráticas deveriam continuar presos e cumprir suas penas, enquanto 18% disseram que eles nem deveriam ter sido detidos e outros 16% defendiam que os acusados poderiam ser sido soltos por estarem na prisão “por tempo demais”.
Ainda que desaprovada pela maioria, a articulação pela pauta voltou a avançar nesta semana com a atuação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi a Brasília com a intenção de destravar a discussão no Congresso.
“A anistia sempre foi uma pauta muito mais bolsonarista. Fora desse grupo, a atenção está voltada nesta semana, principalmente, ao julgamento e à possibilidade de condenação do ex-presidente. Já no Congresso, o tema não mobiliza tanto o centro, ficando restrito também aos bolsonaristas e aos governistas, que ainda têm dificuldade de mobilizar suas bases contra essa discussão”, explica o diretor-adjunto da Bites, André Eler.
Reflexos eleitorais
A aproximação de Tarcísio da pauta ocorre em meio à tentativa do governador de ganhar o apoio de Bolsonaro. Ele é cotado para representar a oposição na eleição presidencial de 2026. Uma associação ao tema, porém, tem potencial para impactar seu projeto eleitoral. De acordo com uma pesquisa Datafolha, em agosto, 61% dos eleitores afirmavam que não votariam em um candidato que prometesse livrar o ex-presidente e outros acusados de golpe.