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Variedades Sábado, 26 de Julho de 2025, 20:23 - A | A

Sábado, 26 de Julho de 2025, 20h:23 - A | A

A controversa “balsa do sexo”: o experimento de Santiago Genovés que testou os limites da convivência humana em alto-mar

Em 1973, um cientista embarcou com 10 voluntários para testar os limites da convivência humana, numa viagem da Espanha ao México num barco apertado. Mas a conclusão não era o que ele esperava

Da Redação

O antropólogo espanhol-mexicano Santiago Genovés estava voando para a Cidade do México, onde vivia desde os 15 anos, quando chegou ao país como refugiado da Guerra Civil Espanhola.

Ele havia embarcado na cidade de Monterrey, após participar de uma conferência sobre a história da violência, quando de repente um grupo assumiu o controle da aeronave, exigindo a libertação de alguns companheiros.

"Era bom demais para ser verdade... Imagina a ironia. Eu, um cientista que passou a carreira toda estudando comportamento violento, acabar dentro de um avião sequestrado."

"Toda a minha vida eu tentei saber por que as pessoas brigam e entender o que realmente acontece na nossa mente", escreveu depois Genovés, uma das grandes referências mundiais em antropologia física, doutor em antropologia pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que dava aulas na Universidade Autônoma do México.

O sequestro da aeronave inspirou o pesquisador a criar uma situação semelhante, que serviria como laboratório para estudar o comportamento humano.

E a experiência que havia tido alguns anos antes com o renomado aventureiro e etnólogo norueguês Thor Heyerdahl deu a ele a ideia para colocar seu plano em prática.

Genovés havia colaborado com Heyerdahl na construção de embarcações de papiro Ra I e Ra II, no estilo dos barcos do antigo Egito, e fez parte da tripulação multinacional que cruzou o Atlântico para mostrar que os africanos poderiam ter chegado à América antes de Cristóvão Colombo.

Durante essas viagens, ele aprendeu o que todo marinheiro sabe: não há laboratório melhor para estudar o comportamento humano do que um grupo que flutua em alto mar.

Com o mar como meio isolante perfeito, o antropólogo se encarregou de preparar seu experimento, elaborando estratégias para provocar conflitos e ferramentas para examiná-los.

"Graças a testes com animais em laboratório sabemos que a agressão pode ser desencadeada colocando diferentes tipos de ratos em um espaço limitado. Quero descobrir se acontece o mesmo com os seres humanos."

O antropólogo mandou construir então um barco de 12 x 7 metros com uma pequena vela. A cabine media 4 x 3,7 metros, com "espaço apenas para o corpo de cada um, deitado. Não dá para ficar em pé", escreveu na Revista de la Universidad de México, em 1974.

E tanto o chuveiro quanto o vaso sanitário ficavam ao ar livre, à vista dos colegas de tripulação.

Ele chamou a balsa de Acali, que na língua náuatle significa "casa na água".

Nela, embarcariam 10 pessoas para fazer uma viagem que duraria 101 dias, sem motor, eletricidade, tampouco "barcos a acompanhando, ou possibilidade de recuar".

'Dez bravos desconhecidos'

Para encontrar voluntários, Genovés publicou um anúncio em vários jornais internacionais - centenas de pessoas responderam.

Ele escolheu quatro homens e seis mulheres - sendo apenas quatro deles solteiros e quase todos com filhos, de diferentes nacionalidades, religiões e contextos sociais, selecionados "para criar tensões no grupo".

Entre eles, estava a capitã: a sueca Maria Björnstam, solteira, de 30 anos, a quem Genovés convidou para ser "a primeira mulher do mundo a ser nomeada capitão de uma embarcação".

Não foi a única mulher a quem ele designou uma função dominante.

Genovés decidiu dar papéis importantes a todas elas, deixando para os homens tarefas insignificantes. "Me pergunto se dar poder às mulheres levará a menos violência. Ou se haverá mais", escreveu.

Em 13 de maio de 1973, a balsa Acali saiu de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, sendo lançada em alto mar como uma ilha flutuando preguiçosamente em direção ao seu destino: a ilha mexicana de Cozumel.

Sexo dentro e fora

Junto com Acali também zarpou a imaginação da opinião pública, instigada pela imprensa.

Apesar de não contar com as câmeras que anos depois mostrariam todos os detalhes de situações semelhantes em reality shows, os meios de comunicação aproveitaram para criar histórias mirabolantes baseadas nos poucos minutos de contato de rádio com a embarcação.

Os jornais estampavam manchetes como "As orgias na jangada do amor" ou "O segredo da balsa do amor" - que falava sobre um suposto código secreto de rádio, para o caso de haver alguma emergência na "balsa da paixão". Foram publicados artigos dedicados, inclusive, ao fato de a capitã usar biquíni, o que fez com que o projeto de Genovés começasse a ser conhecido como "a balsa do sexo".

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