O Brasil ainda convive com índices preocupantes de aprendizagem. Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2023, somente 36% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental alcançaram aprendizado satisfatório em Língua Portuguesa. Em Matemática, o índice cai para 16%.
Para especialistas, a educação integral - que combina jornada estendida com um currículo diverso, voltado ao desenvolvimento cognitivo, socioemocional, físico e cultural - é um dos caminhos mais consistentes para enfrentar o quadro.
O DESAFIO DA EQUIDADE
Apesar dos avanços, os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, do Todos Pela Educação, mostram um cenário desigual. Enquanto o ensino médio em tempo integral passou de 5,3% em 2014 para 22,6% em 2023, houve queda na oferta nos anos iniciais do fundamental — de 20,5% para 17,7% no período. Para Priscila, o movimento revela prioridades distorcidas. “É preocupante ver retrocessos logo na etapa da alfabetização. O fundamental 1 não pode ser negligenciado, porque é a base de toda a trajetória escolar”, afirma.
A exclusão também tem recorte social. “São os estudantes mais pobres, negros, indígenas e moradores de áreas rurais que mais abandonam a escola”, lembra Veronica Gomes dos Santos, diretora de Implementação e Parcerias com Redes de Ensino do Instituto Escolas Criativas. Ela defende políticas intencionais para garantir que a expansão não fique restrita às escolas com melhor infraestrutura. “Educação integral de qualidade exige rever a matriz curricular, valorizar o professor e conectar a escola ao território, com projetos que façam sentido para a comunidade”, completa.
VOZ DOS ADOLESCENTES
A necessidade de repensar a escola também é apontada por Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social. Ela destaca resultados de uma escuta nacional com mais de 2 milhões de adolescentes, que revelam demandas claras: “Eles querem mais tempo para Matemática, mas também pedem movimento, projetos mão na massa e atividades fora da escola”.
Segundo Patricia, o dado mais preocupante é o desencanto dos jovens: quase metade não enxerga a escola como espaço de aprendizagem e 40% não a percebem como ambiente de acolhimento. “Isso mostra que a simples extensão da jornada não basta. A escola precisa se reconectar com a vida real dos estudantes e oferecer experiências significativas, que unam conhecimento acadêmico, cultura, esporte e vínculos comunitários”, diz.
POLÍTICA DE ESTADO
Para as especialistas, a consolidação do modelo depende de uma política nacional consistente, com recursos e continuidade. Estudos reunidos pela Fundação Itaú apontam que o custo por aluno em escolas integrais é quase o dobro do parcial, mas os retornos compensam: jovens que cursam ensino integral têm maior empregabilidade, salários superiores e menor propensão à evasão e à vulnerabilidade social.
“O próximo Plano Nacional de Educação é uma oportunidade para pactuar metas claras e garantir continuidade, independentemente de mudanças de governo”, defende Priscila Cruz. “Educação integral deve ser prioridade, porque é um dos investimentos com maior retorno social e econômico que o Brasil pode fazer”, conclui.


