O mercado de trabalho brasileiro é caracterizado por alta informalidade, baixos salários e forte segmentação, aponta a consultora da Tendências, Giuliana Folego, coordenadora do estudo que mostra que a ascensão social é mais difícil para os mais pobres.
Num país em que os juros elevados, protagonizado pela taxa de juros (Selic) do Banco Central (BC), tem aumentado a renda das classes mais abastadas e piorado a vida dos trabalhadores, principalmente, os com orçamentos mais baixos.
A taxa de juros em patamares elevados favorece muito o aumento da remuneração [das aplicações financeiras], principalmente para a classe A, que vive principalmente da renda proveniente do mercado financeiro
DESIGUALDADE SE AGRAVAM COM IMPACTO DOS JUROS
De acordo com o estudo, enquanto as famílias de classe A têm 72, 7% da renda total trazida de outras fontes, além do trabalho e da previdência social, nas classes B esse percentual é de 7,3%, na C é de 0,8%, e na D e E (mais baixa) é de 1,3%. “Outras fontes de renda” estão incluídas, além dos ganhos com ativos financeiros e rendas habituais (lucros e dividendos, ganhos de capital e etc.), a renda vinda de aluguel, pensão alimentícia, seguro-desemprego, programas sociais e benefícios assistenciais do INSS, entre outros.
A desigualdade de renda do país deve agravar ainda mais com a atividade econômica do país desacelerando por impacto dos juros altos, que inibem os investimentos e a demanda por bens de consumo e serviços. Neste quadro, o mercado de trabalho também desacelera.
INGRESSO NO MERCADO DE TRABALHO NÃO SUPERA POBREZA
A taxa de desemprego ficou em 5,6% no trimestre encerrado em setembro, repetindo a mínima histórica observada no trimestre findo em agosto. No entanto, o baixo nível de desemprego no país vem acompanhado por alto nível de informalidade, que atinge 38,7 milhões de pessoas – trabalhadores despidos da proteção social atingidos pelas leis antitrabalhistas, que na sua maioria vivem dos chamados “bicos”, com jornadas de trabalho exaustivas e salários miseráveis.
Na avaliação da pesquisadora, “embora o ingresso no mercado de trabalho seja o principal caminho para reduzir a pobreza, isso não é suficiente para superá-la”, afirma Giuliana Folego.
“Esse descompasso decorre, principalmente, da baixa qualidade da educação básica, do desalinhamento entre os currículos escolares e demandas do mercado de trabalho, bem como da limitada oferta de empregos qualificados”, explica a consultora.


