Com a escalada da tensão comercial entre os dois países, o Itamaraty enviou um emissário a Washington na última semana. A missão foi sondar as condições para uma possível agenda do chanceler brasileiro na capital americana e avaliar a disposição do governo trumpista em abrir negociação em nível ministerial.
Não houve, até o momento, confirmação nem recusa por parte dos norte-americanos. O emissário atuou em articulação com a embaixada brasileira em Washington, buscando interlocução com representantes da Casa Branca. De acordo com a apuração, o Brasil teria deixado claro que não está disposto a discutir qualquer tipo de interferência no processo judicial que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Interlocutores ligados a Trump têm condicionado a retomada do diálogo à interrupção do processo em que Bolsonaro é réu por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito — acusações que o ex-presidente nega. Trump classificou o caso como uma “caça às bruxas”, repetindo declarações feitas por aliados brasileiros, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comentarista Paulo Figueiredo, que têm se reunido com congressistas republicanos pedindo sanções ao Brasil.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira chegou em Nova York neste domingo (27/7) e permanece até terça-feira (30/7) e, segundo diplomatas ouvidos pela reportagem, só seguirá para Washington caso uma reunião de alto nível seja confirmada. O governo brasileiro avalia que não é do interesse do país expor o chanceler a um possível constrangimento diplomático.
Também estão em Washington nesta semana senadores brasileiros que tentam colaborar com a abertura de um canal político entre os dois governos. Eles têm encontros marcados com parlamentares americanos e representantes do setor empresarial.
SOBRE O ACORDO DOS EUA COM A UNIÃO EUROPEIA “NÃO EXISTE COMPARAÇÃO”, DIZ CELSO AMORIM
Em meio à escalada de tensões comerciais com os Estados Unidos, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, classificou como “incomparável” a imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros em relação ao novo acordo comercial anunciado por Donald Trump com a União Europeia.
“Não conheço em detalhe (o acordo EUA-UE) e que me consta a UE não teve seu sistema judicial agredido. Não dá pra comparar”, afirmou Amorim, ao criticar a vinculação feita por Trump entre as medidas comerciais e o processo judicial em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na última semana, Trump anunciou um acordo preliminar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que prevê tarifas de 15% sobre produtos europeus e a promessa de contrapartidas bilionárias — entre elas, a compra de US$ 750 bilhões em energia e novos investimentos da UE nos EUA.