Os juros básicos no nível mais alto em quase duas décadas, de 15% ao ano, estão provocando estragos nas finanças de empresas e consumidores, que enfrentam crescente dificuldade para manter suas contas em dia. O número de empresas e de pessoas físicas inadimplentes atingiu um nível recorde este ano.
Em julho, o Brasil somava 8 milhões de empresas (um terço das companhias existentes) com dívidas em atraso. No caso dos consumidores, eram 78,2 milhões de brasileiros (quase metade da população adulta) inadimplentes, segundo a Serasa Experian, datatech especializada em dados e informações financeiras.
Cada brasileiro negativado tinha, em média, quatro dívidas com pagamento atrasado e cada empresa inadimplente sete compromissos não honrados.
A inadimplência segue em níveis recordes entre consumidores e empresas, mesmo em um cenário de desemprego na mínima histórica e de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ainda que em desaceleração trimestre a trimestre. Ou seja, apesar das condições que poderiam favorecer a queda do calote, ele continua em alta.
RENDA LÍQUIDA E PEQUENAS E MICROEMPRESAS
A dificuldade enfrentada pelo brasileiro para pagar em dia as dívidas está na redução da renda líquida. Ou seja, o que sobra de fato no bolso do consumidor diminuiu, segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, associação que reúne as financeiras.
“A desaceleração da economia agora está sendo sentida de forma mais forte, e as empresas sofrem com a falta de vendas e a dificuldade em fazer margem de lucro”, diz o economista da Acrefi. Isso explica o aumento da inadimplência das empresas, especialmente entre as pequenas e microempresas.
A perspectiva para a inadimplência das empresas e do consumidor é ainda de meses difíceis, e o esperado é o aumento do endividamento do consumidor e da inadimplência até o final deste ano.
A entrada de recursos extras, como o 13º salário e o pagamento de precatórios, somada à desaceleração da inflação, podem trazer algum alívio para a renda dos brasileiros e aumentar a liquidez das empresas no último trimestre do ano, atenuando a inadimplência.
De toda forma, economistas acreditam que essa situação só será revertida com a queda dos juros básicos que deve ocorrer, segundo analistas, a partir do primeiro trimestre do próximo ano.


