A levantadora Ana Flávia Galvão e a ponteira Mayra Souza vivem momentos de tensão do outro lado do mundo. As brasileiras viram o hotel em que estavam hospedadas em Pokhara, no Nepal, invadido durante os protestos que tomaram conta do país asiático desde terça-feira. As duas, que disputavam uma competição de vôlei pelo Karnali Yashvis, fugiram às pressas do prédio, foram transferidas para outro hotel e ainda não sabem quando poderão retornar ao Brasil.
"Foi muito desesperador. Dava pra ouvir barulhos de pessoas gritando, coisas quebrando e estrondos até mesmo quando já estávamos escondidas na mata", contou.
A população nepalesa protesta contra um bloqueio das redes sociais, como Facebook e Instagram, imposto na semana passada, sob o slogan "bloqueiem a corrupção, não as redes sociais". O bloqueio não foi bem recebido por parte dos 30 milhões de habitantes do país, dos quais cerca de 90% usam a internet.
Manifestantes invadiram o complexo do Parlamento nepalês e atearam fogo na sede do legislativo e em casas de ministros. O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou ao cargo em meio à intensificação dos protestos populares contra o governo.
A levantadora e a ponteira chegaram ao país asiático em 1º de setembro para a disputa da segunda edição da Everest Women's Volleyball League. Uma nova rodada da competição seria realizada na terça-feira, mas foi cancelada devido aos protestos.
Após a invasão do hotel, as brasileiras e as demais colegas de time foram levadas para outra acomodação em Pokhara, mais distante dos conflitos, e estavam em segurança na manhã desta quarta-feira. Agora, as brasileiras aguardam uma definição sobre o fim das manifestações para saberem quando poderão retornar para casa.
— O exército assumiu o poder do país, e as orientações por enquanto são para todos se manterem em toque de recolher. Por isso, ainda não sabemos quando vamos poder deixar o Nepal, pois os aeroportos ainda estão fechados e o exército está nas ruas.
"Agora já estamos mais tranquilas, não tem barulho de protesto nem de vandalismo. Mas a tensão se mantém, ontem foi bem assustador", completou Ana Flávia.
"As malas todas jogadas"
As brasileiras estavam hospedadas no hotel em Pokhara junto com as demais companheiras de time quando manifestantes invadiram o prédio. Em um vídeo gravado do lado de fora do hotel, Ana Flávia falou sobre o caos no prédio onde ela estava e mostrou as malas no chão.
"Olha onde a gente está, as malas todas jogadas aqui. O nosso hotel foi invadido, a gente tá esperando para saber o que vai fazer", disse a brasileira no vídeo.
Ana Flávia contou que se assustou com o barulho das manifestações e que decidiu fugir a pé do hotel.
— Ontem teríamos jogo, mas devido a força das manifestações foi cancelado. Estávamos tranquilas no hotel quando percebemos que os manifestantes já haviam colocado fogo em vários veículos do estacionamento e estavam começando a invadir. Eu estava sozinha no meu quarto que era no segundo andar quando ouvi os barulhos. Uma colega de time que também é brasileira [Mayra] veio ao meu quarto e ficamos juntas. Conseguimos fugir por uma área verde que estava próxima do rooftop.
Já Mayra Souza tem 26 anos e se formou na base do Mackenzie, de Belo Horizonte, cidade onde nasceu. Na carreira, jogou por Valinhos, Taubaté e Recife, entre outros clubes brasileiros, e vive a primeira experiência fora do país neste ano.
"Outras companheiras que estavam no primeiro andar fugiram pra cima porque estavam ateando fogo no jardim e invadindo os quartos", disse.
Preocupadas com os documentos que haviam ficado nos quartos, Ana Flávia e Mayra ainda arriscaram retornar ao hotel para buscá-los junto com outros pertences importantes. Elas contam que não tiveram ferimentos.
— Tivemos muita sorte porque nós arriscamos e conseguimos voltar ao hotel para pegar nossos pertences importantes e documentos. Outros times que estavam aqui na cidade em hotéis diferentes tiveram todos os pertences queimados, e o hotel completamente destruído.
Quem são as brasileiras
Ana Flávia é mineira de Uberlândia e tem 28 anos. Formada nas categorias de base do Praia Clube, ela passou por São Caetano antes de se transferir para o vôlei internacional. Na carreira, jogou na Espanha, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Suíça.