O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (17/9), permanecer com o nível da taxa básica de juros (Selic) em 15%. Assim, o Brasil se firma com a segunda maior taxa de juro real do planeta, com uma taxa de mais de 10% ao ano.
Em comunicado, o Copom ameaça que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, assegurando a bancos e demais rentistas que a Selic continuará nas alturas por um “período bastante prolongado”.
Nesta quarta-feira, o banco central dos EUA (Federal Reserve) cortou os juros em 0,25 ponto percentual, aumentando o diferencial de juros entre os dois países, favorecendo a entrada de capital especulativo no Brasil.
NÃO EXISTE CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL COM JUROS ALTOS
Ao comentar a decisão do Copom, o presidente da CNI, Ricardo Alban, declarou que “não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos”.
“Não existe inovação, reindustrialização, crédito acessível. O que existe é a paralisia nos investimentos produtivos com sequelas para toda a sociedade”, manifestou. “Afinal, por que correr o risco de fazer investimento produtivo se é possível obter, sem esforço, um rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro?”, questionou Alban, ao cobrar uma política monetária mais favorável para quem produz.
A entidade estima que a taxa de juros real está hoje em 10,1% ao ano, mantendo o Brasil na segunda posição entre as maiores taxas de juros real do mundo, atrás apenas da Turquia.
A manutenção dos juros em níveis proibitivos ocorre com a inflação em desaceleração no país, como destaca a CNI. “As altas mensais do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vem perdendo força mês a mês: 1,31% em fevereiro; 0,56% em março; 0,43% em abril; 0,26% em maio e julho, culminando em variação negativa de 0,11% em agosto”, constata.
102,4 MILHÕES NA INFORMALIDADE E REMUNERAÇÕES MISERÁVEIS
As expectativas de inflação para o final de 2025 também estão em queda. No início desta semana, os bancos reduziram a projeção de 4,85% para 4,83% da semana anterior – período de manutenção do nível da inflação esperada, após 14 semanas consecutivas em declínio.
Os diretores do BC, liderados por Gabriel Galípolo, afirmam no comunicado que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue apresentando, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo”.
Apesar da baixa taxa de desemprego de 5,6%, existem no Brasil 38,8 milhões pessoas (37,8% da população ocupada, estimada em 102,4 milhões) no trabalho informal – que agrega, na sua maioria, brasileiros que vivem dos chamados “bicos”, com jornadas de trabalho exaustivas e remunerações miseráveis.
PESSOAS E EMPRESAS SE ENDIVIDANDO
O baixo nível de desocupação no país vem acompanhado pelo nível recorde de inadimplência no Brasil. Ao todo, são mais de 71 milhões de brasileiros com dívidas em atraso, o que representa 43,13% da população adulta do país, segundo estimativas da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo SPC Brasil desde 2015. Os juros altos também jogaram 8 milhões de empresas para a inadimplência, conforme dados da Serasa Experian.
Os dados de inadimplência revelam que as pessoas e as empresas estão tendo que contrair mais dívidas para sobreviver, em um ambiente de juros altos. Ou seja, ao resistir em não cortar os juros, o BC quer não só agravar a inadimplência, mas empurrar milhões de brasileiros para a sarjeta do desemprego, que hoje aflige mais de 6 milhões de pessoas no país.
Em julho, as vendas do comércio varejista – um bom termômetro de como anda o consumo das famílias – recuaram 0,3% na comparação com junho, sendo a quarta retração consecutiva do indicador mensal.