A guinada bolsonarista em discursos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), gera o risco de aumento da rejeição e de afastar eleitores insatisfeitos com a polarização entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo marqueteiros e diretores de institutos de pesquisa.
Levantamentos recentes de Datafolha, Genial/Quaest e Ipsos-Ipec apontam insatisfação no eleitorado com o tarifaço aplicado pelo governo dos EUA e com projetos para anistiar envolvidos na tentativa de golpe, pautas das quais Tarcísio se aproximou em meio a esforços para se consolidar como o escolhido de Bolsonaro na eleição de 2026.
Os analistas também ponderam, por outro lado, que os gestos de Tarcísio seguem o cálculo de conquistar o apoio do ex-presidente, etapa vista como necessária para a própria candidatura ao Planalto. No último domingo, durante manifestação em São Paulo, Tarcísio chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de “tirano”, repetindo uma ofensa usada por Bolsonaro e aliados, e que o governador vinha evitando fazer.
“Ele não precisava desse posicionamento para crescer no eleitorado da direita. Fez isso para crescer no coração da família Bolsonaro, mas acredito que errou na dose e abriu um contencioso político-institucional que não lhe é favorável”, afirma o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe.
Na avaliação de Lavareda, o governador de São Paulo “precisaria estar fazendo um movimento mais ao centro”, para ampliar sua base. Por outro lado, levantamento da Quaest neste mês aponta que a maioria dos eleitores de direita prefere uma candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) em 2026.
Isolamento
“O eleitorado pende hoje para a direita, mas não para a mais radical. Não necessariamente todos que estão insatisfeitos com a democracia defendem essa visão mais deturpada, que foi verbalizada pelo Tarcísio, do que é o equilíbrio entre Poderes previsto na Constituição”, diz a Diretora do Ipsos-Ipec, Marcia Cavallari.
Pesquisa Datafolha do fim de julho apontou que 61% dos eleitores rejeitavam eleger um presidente que apoiasse a anistia a Bolsonaro. Já um levantamento da Quaest indicou que até a direita não bolsonarista rejeitava a justificativa dos EUA de impor tarifas ao Brasil como retaliação ao julgamento do ex-presidente.